Vinte e cinco anos atrás, em 3 de dezembro de 1994, os gamers japoneses eram apresentados a uma nova palavra: PlayStation. Com gráficos e sons muito superiores à geração anterior, o console foi um sucesso absoluto. Mas talvez nem a própria Sony pudesse imaginar, na época, que seu console mudaria a indústria dos games, e daria inicio a uma dinastia que perdura até hoje.

Se em meados da década de 90 a grande “guerra” entre os gamers era Sega versus Nintendo, hoje é entre PlayStation e Xbox. Em meio a sucessos e fracassos a Nintendo sobreviveu, focando seus esforços em um jogador mais casual. A Sega? Desistiu de fabricar hardware em 2001, após admitir que não podia competir com o PlayStation 2, e hoje faz jogos para várias plataformas, entre elas o PlayStation.

Venha e relembre um pouco da história do “Play” e seus descendentes.

As origens na Nintendo

Muita gente não sabe, mas o PlayStation começou como um projeto conjunto entre a Sony e a Nintendo. As empresas já tinham uma parceria: a Sony produzia o SPC-700, chip de som do SNES. Portanto, na hora de desenvolver um “upgrade” para tornar o console capaz de ler CDs, a Sony, uma das inventoras do CD-ROM, foi a escolhida.

Foi por muito pouco que o “Nintendo Play Station” (com espaço no nome) não chegou ao mercado. A Sony já tinha produzido algumas unidades que seriam entregues aos desenvolvedores de jogos (devkits), e demonstrado o console durante a CES em junho de 1991.

Entretanto, apenas um dia após a demonstração, a Nintendo inesperadamente anunciou que estava encerrando sua parceria com a Sony, e formando uma com a Philips, outra inventora do CD-ROM.

Sem saber, a Nintendo estava criando um rival formidável. Enfurecido pela traição o Presidente da Sony, Norio Ohga, ordenou ao engenheiro Ken Kutaragi, encarregado do projeto, que continuasse desenvolvendo o PlayStation como um console independente, para “ensinar uma lição” à Nintendo.

Reprodução

O protótipo do Nintendo Play Station. Note o logo da Sony no controle

Das unidades que a Sony produziu para desenvolvedores, apenas uma sobreviveu até agora. Esse Nintendo Play Station foi descoberto em 2015 por Terry Diebold, como parte de um lote de itens na massa falida de uma empresa na qual ele trabalhou, e onde também havia trabalhado Ólafur Jóhann Ólafsson, ex-CEO da Sony Computer Entertainment.

Inicialmente o protótipo só era capaz de rodar jogos em cartucho. Mas graças a esforços para engenharia reversa do hardware e a uma doação misteriosa com a ROM de boot do acessório ele pôde ser totalmente restaurado. Baseados nas especificações técnicas, desenvolvedores criaram jogos que são capazes de rodar sem problemas no protótipo.

Lançamento

O Sony PlayStation foi lançado no Japão em 3 de dezembro de 1994, 10 dias depois de seu principal concorrente, o Sega Saturn. O console da Sega chegou fazendo muito barulho, com 200 mil unidades vendidas no primeiro dia nas lojas, em parte graças à popularidade de um de seus títulos de lançamento, o jogo de luta Virtua Fighter.

O PlayStation tinha a seu favor o preço um pouco menor, o “pedigree” da Sony e Ridge Racer, versão quase perfeita do jogo de corrida do mesmo nome originalmente desenvolvido pela Namco para os arcades. E qual foi o resultado? Longas filas nas lojas e nada menos do que 100 mil unidades vendidas no primeiro dia. Número impressionante para uma completa novata no mercado de consoles. Em seis meses já havia 2 milhões de PlayStation nas mãos dos consumidores.

Ridge Racer, um dos primeiros jogos do PlayStation

A Sega obviamente não ficou parada. Quando o estoque inicial do Saturn acabou a empresa esperou até o dia do lançamento do PlayStation para entregar às lojas um novo lote, numa tentativa de “melar” a festa da Sony.

Além disso, a empresa adiantou o lançamento do Saturn nos EUA para tentar conseguir uma vantagem no mercado, mas o resultado foi o oposto. Originalmente programado para Setembro de 1995, o console foi lançado em 11 de Maio de 1995. Uma estratégia desastrada na distribuição dos primeiros consoles acabou alienando alguns dos principais varejistas do país, e a escassez de títulos no lançamento não atraiu consumidores.

A gota d’água foi a diferença de preço: o PlayStation custava US$ 299, US$ 100 (cerca de US$ 170 atualmente) mais barato que o concorrente. Quando chegou às lojas dos EUA em 9 de Setembro de 1995, amparado por um catálogo de 17 jogos em vários gêneros, o console vendeu em dois dias mais de 100 mil unidades, mais do que o Saturn havia vendido nos EUA nos cinco meses anteriores.

DualShock

Peça a qualquer pessoa na rua para descrever um “controle de videogame” e são grandes as chances dela descrever algo parecido com um DualShock. Com suas duas alavancas analógicas e motores que o fazem vibrar em resposta à ação na tela, ele é quase sinônimo de videogame para as gerações mais novas, no mesmo patamar que o CX-40 do Atari 2600 ou o do NES.

Mas o que muita gente não sabe é que o DualShock não é o controle original do PlayStation. Ele só foi lançado no Japão em Novembro de 1997, quase três anos depois do lançamento do console. Antes dele o console usava um controle com design similar, mas sem os motores de vibração ou os direcionais analógicos.

Reprodução

À esquerda, o controle original do PlayStation. À direita, um DualShock

O sucesso foi tanto que uma versão modificada, o DualShock 2, foi o controle padrão do PlayStation 2. A principal diferença para a geração anterior estava nos botões e gatilhos, que eram analógicos. Ou seja, respondem à pressão feita pelo jogador

Quando o PlayStation 3 foi anunciado, a Sony mostrou também um novo controle com um design radicalmente diferente, em forma de bumerangue. A reação dos fãs foi tão negativa que a empresa voltou atrás, substituindo-o por um design baseado no DualShock 2 porém sem fios, chamada SixAxis.

O SixAxis podia reagir aos movimentos do controle, mas não tinha os motores de vibração, pois na época a Sony estava envolvida em uma disputa de patentes com uma empresa chamada Immersion Corporation que dizia ter inventado e patenteado a tecnologia. Foi só quando as empresas entraram em um acordo que os motores voltaram e o SixAxis passou a ser conhecido como DualShock 3.

O DualShock 4, criado para o PlayStation 4, mudou pouco. Além do design mais arredondado, ele ganhou uma área sensível ao toque acima dos direcionais analógicos e uma barra luminosa na parte de trás, que ajuda a identificar o controle quando usado com a PlayStation Camera ou PlayStation VR.

Se os rumores estiverem certos, o DualShock 5 será muito similar ao 4 em design, mas trará um recurso interessante: os jogos serão capazes de controlar a resistência dos botões, o que permitirá que os gatilhos se comportem de forma diferente com cada arma em um jogo de tiro, ou que seja mais fácil, ou difícil, pisar no acelerador em um jogo de corrida de acordo com as condições da pista.

Os oito PlayStation

Se a Sony está desenvolvendo o PlayStation 5, quantos vieram antes dele? Quatro? Não senhor, a resposta correta é sete. Tecnicamente este será o oitavo PlayStation, contando consoles de mesa e portáteis. Se considerarmos as revisões dentro de uma mesma geração, como o PSOne, PSP-3000 ou PlayStation 3 Slim, o número é ainda maior.

Tivemos o PlayStation original, PlayStation 2, PlayStation Portable (PSP), PlayStation 3, PlayStation Vita (PSVita) e PlayStation 4. Além destes entre o PlayStation 2 e 3 tivemos também o PSX, lançado apenas no Japão.

Reprodução

O PSX, mistura de PlayStation 2 com DVR

Ele era uma mistura de PlayStation 2 com gravador de vídeo digital (DVR), uma tentativa da Sony de criar um único aparelho para dominar a sala de estar. Rodava um sistema operacional próprio e foi o primeiro produto da Sony com a interface Cross-Media Bar (XMB), que mais tarde ficou famosa no PS3 e PSP.

Falando na sala de estar, a Sony lançou apenas na Europa a BRAVIA KDL22PX300, uma TV HD (720p) de 22” com um PlayStation 2 integrado na base. Segundo rumores, ela foi criada como uma forma de aproveitar um excedente do estoque de placas-mãe do PlayStation 2 Slim.

PlayStation de bolso

O spin off mais famoso da família PlayStation talvez seja o Xperia Play. Lançado em fevereiro de 2011, ele era um smartphone Android 2.3 baseado em um processador Qualcomm Snapdragon de 1 GHz, com 512 MB de RAM e tela de 4” com resolução de 480 x 854 pixels.

Seu principal destaque era o gamepad integrado que ficava escondido atrás da tela, com o mesmo layout de um DualShock (incluindo duas áreas sensíveis ao toque para simular os direcionais analógicos). Isso lhe deu o apelido de PlayStation Phone.

O aparelho vinha com software especial que permitia comprar e baixar jogos do PlayStation 1 em uma loja própria da Sony, que rodavam em um emulador no Android. Claro, não demorou muito para que hackers descobrissem como “destravar” o emulador e rodar cópias de qualquer jogo de PlayStation baixado da internet.

Reprodução

O Xperia Play

Infelizmente a Sony nunca apostou realmente na idéia. O software ficou parado no tempo: o aparelho nunca recebeu uma atualização para versões mais recentes do Android, como o Android 4. O catálogo de jogos de PlayStation era pequeno, e embora houvesse jogos de Android que tirassem proveito dos controles, eles não ofereciam muito mais do que em qualquer outro smartphone Android.

Por fim, o hardware não evoluiu: a Sony nunca lançou novas versões do mesmo conceito, enquanto que smartphones concorrentes começaram a surgir com hardware cada vez mais poderoso pelo mesmo preço.

Pelo menos o esforço de engenharia não foi em vão. O hardware serviu de base para o design do PSP Go, versão do PSP mais compacta, que rodava apenas jogos digitais.

Videogame ou supercomputador?

O PlayStation 3 mudou muito durante os 10 anos em que ficou no mercado. Os primeiros modelos tinham alguns recursos que foram eliminados nas revisões posteriores, como compatibilidade total com todos os jogos do PlayStation 2 (isso porque a CPU e GPU do PS2 estavam dentro do PS3) e a capacidade de rodar, de fábrica, outros sistemas operacionais como o Linux.

Sim, é isso mesmo: o PS3 podia ser transformado em um computador “de uso geral” instalando uma versão especial do Linux nele. Isso, combinado ao baixo custo (comparado ao hardware de sua época) e o poderoso processador Cell desenvolvido pela IBM, fez com que ele fosse usado como base para o desenvolvimento de clusters, grupos de computadores interconectados que funcionam como um único supercomputador.

Reprodução

Parte do Condor, cluster feito com 1.760 PlayStation 3.

O mais famoso destes esforços foi o Condor, criado pela Força Aérea dos EUA. O supercomputador usava 1.760 PlayStation 3 interconectados, com um poder de processamento total de 500 Trilhões de Operações em Ponto Flutuante (500 TFLOPS) por segundo, o que o tornava o 33º computador mais poderoso do planeta. O objetivo, segundo os militares, era “analisar imagens de satélite em alta resolução”.

Infelizmente iniciativas como o Condor chegaram ao fim em março de 2010, quando a Sony anunciou que a versão 3.21 do firmware do console eliminaria a capacidade de rodar outros sistemas operacionais, citando “preocupações com a segurança”. Como essa versão logo viria instalada de fábrica em todos os consoles, a construção de novos supercomputadores se tornou impossível. Máquinas já construídas com consoles usando versões anteriores do firmware não foram afetadas, desde que não fossem atualizadas.

O retorno

O PlayStation original voltou às lojas em dezembro de 2018 com o lançamento do PlayStation Classic. Por US$ 99,99 o console trazia na memória 20 grandes jogos do console, além de dois controles USB no formato dos originais. Além de dispensar CDs, o console traz uma saída HDMI e está pronto para ser ligado a TVs modernas.

Na verdade o console é uma “reinterpretação” do original, com um emulador altamente integrado rodando em um processador ARM de baixo custo, não muito diferente do encontrado em smartphones de entrada. Nada contra, afinal foi a mesma abordagem usada pela Nintendo nos bem-sucedidos NES Classic e SNES Classic.

Reprodução

PlayStation Classic

Infelizmente a Sony pisou feio na bola. O catálogo omitia alguns dos maiores sucessos do console, como Crash Bandicoot e Tomb Raider, e logo foram notados problemas de desempenho causados por erro da Sony na configuração do emulador interno. Alguns jogos rodavam a 50 Hz, a frequência das TVs e consoles europeus, e por isso pareciam “lentos” para os gamers norte-americanos e japoneses, acostumados com jogos a 60 Hz.

Logo os usuários descobriram como “desbloquear” o sistema do console e corrigir muitos dos problemas, além de adicionar novos jogos. Ainda assim, o dano dos reviews iniciais já estava feito. Hoje é possível encontrar um PlayStation Classic por cerca de US$ 50, metade do preço inicial.

Campeão de vendas

Ao longo dos últimos 25 anos de mercado a família PlayStation já vendeu quase 450 milhões de unidades, contando apenas os consoles de mesa. No ranking dos consoles domésticos mais vendidos de todos os tempos a Sony ocupa as três primeiras posições, com o PlayStation 2 na liderança (mais de 155 milhões), o PlayStation 4 na segunda posição (102.8 milhões) e o PlayStation original em terceiro (102.5 milhões).

Reprodução

PlayStation 4, o segundo console mais vendido em todos os tempos

Mais importante, gerou incontáveis lembranças para gamers de todo o planeta, para quem o “Play” foi ou ainda é sinônimo de diversão. Obrigado por tudo, PlayStation. E que venham mais 25 anos!