A Google DeepMind anunciou hoje uma parceria com o Moorfields Eye Hospital de Londres. A empresa construirá um sistema de aprendizagem de máquina que permitirá, no futuro, que robôs detectem indícios de cegueira logo nos primeiros estágios a partir de imagens das retinas dos pacientes. A DeepMind é a mesma empresa que criou o AlphaGo, o computador que derrotou o campeão mundial de Go

Essa é a primeira vez que a aprendizagem de máquina é utilizada em um projeto de saúde. A ideia é usar milhões de imagens de retinas para treinar computadores a detectar os primeiros sinais de uma lesão que pode vir a provocar cegueira no futuro. O sistema será capaz de perceber os primeiros indícios de problemas como degeneração macular ou retinopatia diabética.

Para esse fim, o hospital oftalmológico compartilhará com a DeepMind cerca de 1 milhão de scans de retinas dos pacientes. Esses scans serão usados como uma primeira base de dados para o treinamento da inteligência artificial. O vídeo abaixo, da própria DeepMind, fala mais sobre a colaboração:

O NHS (National Health System ou sistema nacional de saúde da Inglaterra, uma espécie de SUS inglês) é o intermediário da parceria. A iniciativa partiu do oftalmologista Pearse Keane, do Moorfields Eye Hospital, que entrou em contato com a DeepMind após ler sobre a competência dos sistemas de inteligência artificial em identificar imagens. “Eu tive a impressão de que a aprendizagem de máquina poderia se tornar muito boa em olhar imagens de olhos”, disse Keane em entrevista ao Guardian.

Vidas de experiência

De acordo com o dr. Sir Peng Tee Khaw, diretor de pesquisa oftalmológica do hospital, atualmente já é possível produzir uma grande quantidade de imagens em altíssima resolução das retinas dos pacientes. No entanto, há uma imensa dificulade relacionada em interpretar essa grande quantidade de informação. “Eu uso minha experiência de vida inteira para acopanhar o histórico de um paciente”, disse.

Com isso, o principal uso do sistema seria aprender a “ver” essas imagens e detectar nelas os primeiros sinais de doenças mais graves, que poderiam futuramente levar à perda completa da visão. O sistema de aprendizagem de máquina permitiria que o algoritmo fosse treinado a reconhecer esses sinais de maneira melhor ainda que os médicos. “Se nós pudéssemos usar [essa tecnologia], poderíamos ser muito melhor nisso, porque então eu poderia usar a experiência de 10 mil vidas”, disse Khaw.

Isso poderia, ao menos, ajudar os oftalmologistas a se concentrarem nos casos mais graves e indicar tratamentos adequados a esses pacientes. Além disso, todas as informações compartilhadas com o DeepMind pelo NHS serão anônimas, de forma que nenhum paciente será identificado.

Esse não é o único trabalho que a DeepMind arrumou depois da vitória sobre o campeão mundial de Go. Após aquela conquista importante, a empresa também passou a treinar sistemas para aprender a jogar StarCraft e a jogar futebol virtual com formigas