A SaferNet, organização não governamental (ONG) que atua junto ao Ministério Público Federal (MPF) no monitoramento de fraudes no processo eleitoral cometidas pela internet, frisou nesta segunda-feira (16) que o recente ataque hacker sofrido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não teve nenhum impacto na contagem de votos das eleições municipais conduzidas no domingo (15), as quais elegeram prefeitos e vereadores em várias cidades.

Segundo a organização, o ataque de negação de serviço (DDoS) foi uma ação premeditada, executada antes das eleições, mas publicada apenas no dia delas a fim de minar a credibilidade do TSE. “Trata-se de uma operação coordenada e planejada para ser executada no dia das eleições com o objetivo de desacreditar a Justiça Eleitoral e eventualmente alegar fraude no resultado desfavorável a certos candidatos”, disse o presidente da SaferNet, Thiago Tavares, à Folha de São Paulo.

Na manhã de domingo, o TSE passou por um vazamento de dados relacionado a uma antiga base de dados contendo informações desatualizadas sobre processos de Recursos Humanos do órgão. Uma investigação da Polícia Federal, em parceria com a SaferNet, porém, foi capaz de determinar que o ataque ocorreu em 23 de outubro, antes das eleições.

“Apesar de o ataque ter sido feito antes de 23 de outubro, deixaram para publicar o vazamento dos dados na manhã de hoje, para causar mais impacto”, afirmou Tavares. “Em paralelo, deflagraram um ataque de negação de serviço (às 10h41) para tirar do ar o site e alguns serviços da Justiça Eleitoral”.

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Thiago Tavares, presidente da SaferNet.  Imagem: Agência Brasil/Divulgação

De acordo com o rastreio do IP de origem dos ataques, o(s) hacker(s) que invadiram o sistema do TSE estariam baseados ou teriam coordenado suas ações de computadores localizados em Portugal. Pelo fato de um ataque DDoS usar computadores infectados para multiplicar seu potencial muitas e muitas vezes, o TSE argumenta que as máquinas usadas para isso provavelmente seriam localizadas no exterior.

Atraso na contagem de votos

A notícia dos ataques causou um aumento no volume de conspiracionistas que afirmavam veementemente uma fraude no processo eleitoral. Ampliando ainda mais este discurso há o fato de que o TSE passou por um atraso técnico na contagem de votos conduzida ao longo do dia.

Inicialmente, Tavares e o presidente do TSE, Luís Roberto Barroso, defenderam que houve um problema no processador de uma máquina usada para totalizar os resultados da votação é o responsável pelo atraso, desmentindo qualquer relação entre o caso e os ataques sofridos. No entanto, posteriormente, o tribunal mudou a versão e alegou que a demora foi causada pela falta de testes no computador, em decorrência da pandemia. O equipamento era novo e não foi entregue a tempo para que todos os testes pudessem acontecer e, durante o domingo, a inteligência artificial não foi rápida o suficiente para processar os dados, forçando a interrupção e reinicialização.

As suspeitas vieram, em sua maior parte, de perfis aliados à direita e extrema-direita do espectro político. A candidata derrotada à Prefeitura de São Paulo, Joice Hasselman (PSL-SP), chegou a ecoar as suspeitas em seu perfil oficial no Twitter. A rede social de microblogs, no entanto, marcou a publicação como “contestada”, sinalizando a inverdade no texto.

 

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Tuíte da candidata derrotada Joice Hasselman mencionava suposta fraude no processo de apuração dos votos. Imagem: Twitter/Reprodução

“Vários grupos políticos já estavam havia dias questionando a segurança dos servidores do TSE e das urnas, como que antevendo o anúncio do suposto hacking”, comentou o presidente da ONG.

Em virtude dos ataques sofridos e a comoção de conspirações gerada por eles, o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), em seu papel de delegado especializado em crimes cibernéticos, disse que uma investigação deverá ser lançada para apurar os responsáveis pela invasão.

“Ataques como esse que atingiu o TSE exigem estrutura e financiamento; o objetivo é desacreditar a democracia. É preciso garantir investigação rápida e punição pesada para os criminosos”.

Fonte: Folha de São Paulo