Diário de bordo: como o Linux se sai para rodar jogos

Nós resolvemos instalar o Linux exclusivamente para rodar jogos. Confira a nossa matéria para saber como o sistema do pinguim se saiu!
Alvaro Scola04/10/2019 22h00, atualizada em 05/10/2019 12h00

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O Windows e o Linux são alguns dos principais sistemas operacionais para computadores e as suas diferenças sempre renderam boas discussões entre seus utilizadores. Por sua vez, durante muito tempo, o Linux foi considerado um sistema apenas para trabalho e servidores, tendo até mesmo algumas piadas feitas por não ter jogos para ele.

Com o passar do tempo, esse cenário foi mudando, principalmente com a chegada do Steam, que criou até mesmo o sistema Steam OS, mas será que o Linux é realmente capaz de rodar jogos com eficiência, facilidade e qualidade? Para tirar esta dúvida, o Olhar Digital resolveu instalar o Linux em uma máquina e inicia aqui mais um diário de bordo, que contará como foi a experiência de rodar jogos nele.

O PC utilizado e a escolha da distribuição

Para fazer uma matéria de jogos, é claro, tivemos que escolher uma máquina que fosse capaz de rodar os games mais recentes lançados para o Windows sem problemas. Assim, apesar de não ser a máquina mais atual disponível no mercado, esta foi a configuração do PC utilizado para nossos testes:

  • P8H67-M EVO;
  • Processador Intel i5 2500;
  • Placa de vídeo GeForce GTX 760 SC EVGA;
  • 8 GB de memória RAM DDR3;
  • HD de 500 GB.

Com esta configuração, ao utilizar o Windows 10 nela, é possível rodar diversos jogos de PC mais recentes como o Fortnite, Forza Horizon 3 e 4, Wolfenstein, GTA V, Monster Hunter, League of Legends, Dota, Project Cars 2, Witcher 3 e outros títulos pesados sem nenhum tipo de lentidão. Para rodá-los, entretanto, é necessário frisar que esses games têm suas definições de gráficos configuradas para o nível alto com a resolução Full HD (1920 x 1080 pixels) a 60 quadros por segundo.

Assim como você já deve ter visto em outras matérias do Olhar Digital, o Linux possui muitas distribuições, que servem para diferentes finalidades e possuem seus próprios comandos, pacotes e funções. Desta forma, tive que fazer a escolha de uma distribuição para este projeto, sendo que optei pelo popular Linux Mint.

A minha escolha se deu por conta de uma série de detalhes, que foram analisados com o objetivo de rodar jogos. Antes de fazer a sua instalação, ponderei se o Pop OS, o Manjaro ou o Ubuntu não poderiam me atender. Depois de pesquisas, cheguei à conclusão de que todos eles são boas opções, mas acabei selecionando o Linux Mint devido ao seu baixo consumo de recursos, um menor número de aplicativos pré-instalados e da possibilidade instalar os drivers proprietários da Nvidia com mais facilidade, algo que é feito de forma diferente, por exemplo, no Pop OS ou no Manjaro.

O que também contribuiu para minha escolha foi o fato de o Linux Mint levar como base o Ubuntu. E, a maioria dos programas utilizados para jogar no sistema do pinguim possuem um suporte maior para ele ou para distribuições com base no Debian, ao qual sou mais familiarizado com os comandos e suas ferramentas.

A instalação e a configuração do sistema

Assim como no Windows, depois de instalar o sistema operacional, é necessário fazer a instalação de alguns drivers para que tudo rode da maneira correta. A instalação base do Linux Mint, mesmo para jogos, não difere em nada do que é feito com qualquer outra distribuição.

Então, para começar, utilizei uma máquina com o Windows e o programa Rufus para passar os arquivos da imagem ISO para um pendrive, que é a forma mais prática de instalar o Linux em um PC. Quem preferir, também pode gravar a imagem ISO em um DVD comum.

Reprodução

Utilizando o Rufus Portable, que roda sem precisar ser instalado, deixei nele as opções padrões para passar os arquivos da imagem para o pendrive. O processo não levou mais do que alguns minutos para ser feito aqui, mas pode variar de acordo com o tamanho do arquivo e da qualidade e velocidade de seu pendrive.

Uma vez que o pendrive já está com os arquivos prontos, chega a hora de ir para o computador, que terá o Linux instalado. Logo ao ligá-lo, já entrei em sua BIOS para alterar a sequência de boot, deixando a prioridade para o pendrive, que está com os arquivos do Linux Mint.

Reprodução

Depois do Linux Mint estar sendo executado em sua versão Live, que roda sem ser instalada, bastou executar o seu assistente de instalação para passá-lo ao HD do computador. A única mudança que fiz aqui, foi em optar manter um dual-boot, que serve para poder ligar este PC com o Linux ou com o Windows 10. Esta escolha foi feita para que eu possa comparar o desempenho entre ambos sistemas ao rodar os mesmos jogos.

Reprodução

Após ter realizado a instalação do Linux, eu tive um pequeno susto com o computador, que não queria passar mais o sinal de vídeo para o monitor nem mesmo para dar o boot na BIOS. Entretanto, depois de reiniciar a máquina algumas vezes, a situação foi normalizada sem precisar abrir o PC ou fazer qualquer procedimento adicional.

Instalando os drivers

Assim como foi mencionado mais acima, depois de instalar o Linux, também é preciso fazer a instalação dos drivers de vídeo, que no nosso caso são da Nvidia. Por padrão, o Linux até traz alguns drivers para já rodar o sistema, mas eles não são os oficiais da fabricante e podem não realizar algumas tarefas como rodar jogos e vídeos com uma performance satisfatória.

Para esta parte, a ferramenta que utilizarei para instalar os drivers é o “Terminal” do Linux, que precisa de alguns comandos:

  1. Para começar, vamos adicionar o repositório da Nvidia com os drivers mais recentes pelo comando: sudo apt-add-repository ppa:graphics-drivers/ppa && sudo apt update;

    Reprodução

  2. Agora que temos o repositório, vamos descobrir a versão recomendada do driver com o comando: ubuntu-drivers devices;

    Reprodução

  3. Sabendo a versão do driver recomendada, basta finalizar a instalação dele com o seguinte comando: sudo apt install nvidia-driver-435. O número da versão sugerida pode mudar de acordo com o modelo de sua placa;

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  4. Para instalar a interface gráfica de configurações da sua placa de vídeo, use mais este comando: sudo apt install nvidia-settings;

    Reprodução

  5. Agora, reinicie o computador com o comando: sudo reboot.

Vale lembrar, que este processo descrito acima para fazer a instalação dos drivers de vídeo também pode ser feito no ambiente gráfico e na distribuição Ubuntu. Aqui, fiz a instalação deles pelo terminal por uma questão de preferência pessoal.

A instalação do Steam e o teste dos jogos nativos para Linux

Agora que o driver principal para jogos está instalado no Linux falta instalar, é claro, o Steam, que tem investido fortemente no sistema do pinguim. Felizmente, o processo para a sua instalação é bem simples e pode ser realizado de três maneiras:

  • Através do terminal com o comando: sudo apt install steam;
  • Através do site oficial do Steam com o arquivo .DEB, que é instalado como se fosse um arquivo executável do Windows;
  • Através da loja de aplicativos do próprio Linux Mint.

Para facilitar este processo, aqui optei por fazer a instalação do Steam pela própria loja de aplicativos. Basicamente, tudo o que precisa ser feito, é abrir a loja, procurar pelo Steam e clicar em instalar, o que é mais fácil do que instalar o Steam no Windows.

Infelizmente, na prática, o processo não funcionou como deveria e o Steam foi o programa que mais deu trabalho para ser instalado. Após rodar sua instalação pela loja de aplicativos, o próprio Steam começava uma atualização e não exibia a sua tela de login ou qualquer mensagem de erro, apenas não abria.

Para solucionar este problema, tive que recorrer ao fórum do Linux Mint, onde é descrito que o Steam não instala uma de suas bibliotecas 32 bits. A outra solução já seria fazer a instalação do programa via Flatpak, que foi feita com estes comandos no terminal:

  • sudo add-apt-repository ppa:alexlarsson/flatpak
  • sudo apt update && sudo apt install flatpak xdg-desktop-portal
  • sudo flatpak remote-add –if-not-exists flathub https://flathub.org/repo/flathub.flatpakrepo
  • sudo flatpak install flathub com.valvesoftware.Steam

Quem preferir, também existe a possibilidade de fazer a instalação do Steam pelo Flatpak através do Flathub. Ainda assim, parte do processo pode acabar tendo que ser realizada manualmente.

Depois do trabalho de instalar o Steam, felizmente, obter os jogos nela é bem simples, uma vez que o processo é o mesmo que fazemos no Windows. Basta acessar a sua biblioteca, selecionar o título para download e clicar em instalar, mas é preciso ficar atento, que por padrão, o Steam para Linux lista até mesmo alguns jogos incompatíveis, ou seja, que não possuem versão nativa para o sistema do pinguim.

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Começando com os testes dos jogos, o primeiro título rodado neste computador foi o Moba Dota 2, que é da própria Valve, a desenvolvedora do Steam. Assim como no desempenho do Windows, o Dota 2 ficou com a sua taxa de quadros por segundo bem alta e sempre acima dos 60 frames. Assim, o Dota 2 teve o seu desempenho aprovado e sem demonstrar qualquer lentidão.

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O segundo jogo testado foi um título mais antigo, mas que ainda é pesado, sendo ele o Metro 2033 Redux. No Windows, eu sempre tive problemas com este jogo por conta de drivers, que apresentavam crashes e fechavam ele durante a partida em momentos aleatórios. Felizmente, no Linux, eu não tive este problema, mas a taxa de quadros ficou um pouco abaixo do que é visto no Windows ainda estando completamente jogável.

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Conclusão

O Linux pode ainda não ter toda a variedade de títulos que já temos no Windows, mas consegue oferecer uma boa performance para jogos, inclusive me livrando de problemas que vi no Windows sem soluções para casos bem específicos. Ao menos, nos títulos que tive a chance de testar, a performance foi bem estável.

Por outro lado, a instalação do sistema e de seus programas, como foi descrito no texto, ainda apresentam problemas em que é necessário recorrer as comunidades das distribuições para achar uma solução, que nem sempre é prática. Geralmente, estas soluções, envolvem entrar em partes do sistema ou ter que baixar bibliotecas e drivers de forma manual.

Este foi apenas o primeiro capítulo da nossa série de como o Linux se sai para rodar jogos. Em breve, nós mostraremos uma parte ainda mais interessante que é como os jogos de Windows se saem no Linux e o uso de outros aplicativos, que não são do Steam para rodá-los. Caso tenha alguma sugestão para o próximo capítulo ou queira compartilhar sua experiência do Linux para jogos, deixe o seu comentário!

Editor(a)

Alvaro Scola é editor(a) no Olhar Digital