A cidade de Wuhan, na China, ponto inicial da pandemia de Covid-19 que se espalhou pelo mundo, está realizando um gigantesco esforço para testar todos os seus 11 milhões de habitantes em busca de casos não detectados da doença.

Doze dias após o anúncio do plano, o governo local informa que 6,5 milhões de pessoas já foram testadas e que poucos casos da doença foram encontrados, apenas 200, a maioria assintomáticos. Equipes médicas estão percorrendo todos os bairros da cidade, batendo de porta em porta e pedindo que os cidadãos que ainda não foram testados se encaminhem para locais de teste próximos.

Pessoas que se recusam a realizar o teste são alertadas de que podem sofrer um “downgrade” em seu código de saúde. “Vocês não poderão entrar em supermercados e bancos”, alertam os enfermeiros. “Seu código verde ficará amarelo, e isso irá lhe causar inconveniência”.

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Governo de Wuhan espera testar todos os 11 milhões de habitantes da cidade em pouco mais de 15 dias

O governo chinês está usando um sistema de QR Codes enviados aos smartphones dos cidadãos para identificar pessoas saudáveis. Um código verde significa que a pessoa não tem a doença, amarelo significa que ela é suspeita e deve ficar de quarentena e vermelho significa um caso confirmado. Os códigos são checados em vários momentos do dia-a-dia, do acesso a lojas ao embarque no transporte público. Além do downgrade do código, filhos de pais que se recusarem a realizar o teste não poderão voltar às aulas.

Para atingir a meta definida pelo governo os laboratórios de Wuhan aumentaram sua capacidade de testes, de 46 mil testes por dia, em média, para 1,47 milhões de testes na última sexta-feira. Para isso estão usando um sistema de testes em lotes, onde várias amostras são testadas de uma só vez.

Um resultado negativo significa que todas estão liberadas, e um positivo significa que todas as amostras do grupo precisam ser testadas individualmente. A técnica só funciona quando há um baixo número de casos, como ocorre atualmente em Wuhan.

População receosa

Segundo o The New York Times, embora boa parte da população aprove os testes há aqueles que estão receosos, temendo o contato de grande número de pessoas. Herry Tu, morador de Wuhan, se recusou a fazer o teste durante vários dias. “Como tantas pessoas vão se reunir de forma segura e manter dois metros de distância? Os médicos e enfermeiros realmente irão trocar seus equipamentos antes de testar cada uma?”.

“Somos totalmente contrários a isso”, disse o Sr. Tu sobre sua família. “Porque, se você ainda não foi infectado, esse teste significa contato”. De fato, fotos da Agence France Presse (AFP) publicadas pelo The New York Times mostram longas filas de pessoas próximas, aguardando sua vez para o teste.

Especialistas também questionam a eficácia do plano com base em dois fatores: a qualidade dos reagentes usados nos testes chineses, criticados por vários países que os adquiriram, e a imensa escala em um curto período de tempo. Segundo Jin Dongyan, um virologista da Universidade de Hong Kong, tantos testes em rápida sucessão, feitos em tendas improvisadas, podem produzir muitos resultados falsos.

Mas há outro motivo, além do médico, para o esforço por trás dos testes: tranquilidade. Segundo o Dr. Yang Zhangiu, virologista da Universidade de Wuhan “o esforço para testar a todos irá melhorar a vitalidade da cidade e fornecer uma base científica para o retorno ao trabalho, disse. “Também pode deixar as pessoas mais tranquilas, e dar a todos um pouco de paz de espírito”.

Fonte: The New York Times