Vacina de Oxford tem teste paralisado após suspeita de evento adverso ‘sério’

AstraZeneca diz se tratar de uma ação de rotina para analisar riscos de uma doença potencialmente causada pela imunização
Renato Santino08/09/2020 22h52, atualizada em 08/09/2020 23h05

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A vacina em fase mais avançada de testes contra a Covid-19, desenvolvida pela Universidade de Oxford e pela farmacêutica AstraZeneca, encontrou um obstáculo. A pesquisa foi temporariamente paralisada devido à suspeita de um efeito colateral considerado ‘sério’ durante estudos clínicos de fase 3 no Reino Unido.

Segundo o site Stat News, a AstraZeneca confirma a paralisação, que ainda não tem um prazo para ter um fim. De acordo com a empresa, “um processo de análise padrão causou uma pauta na vacinação para permitir a avaliação dos dados de segurança”. O representante da farmacêutica também cita que essa é uma “ação rotineira que precisa acontecer sempre que há uma doença inexplicada potencial em algum dos testes enquanto há a investigação, para garantir a integridade dos experimentos”.

A empresa não explica qual evento suspeito foi esse que levou a interrupção dos testes, mas ao que tudo indica a paralisação foi uma decisão dos próprios pesquisadores, e não de uma agência regulatória.

Duas pessoas consultadas pela publicação trouxeram algumas explicações adicionais sob condição de anonimato. A primeira menciona que a decisão foi uma “abundância de cuidado”, uma medida mais de precaução do que uma preocupação real. A outra aponta que essa interrupção deve impactar os ensaios clínicos em outros centros, já que a vacina está em testes em vários países, incluindo o Brasil.

Outros centros de pesquisa devem usar esse tempo para revisar dados de eventos adversos para encontrar outros ocorrência similares, com o acompanhamento do Quadro de Monitoramento de Dados e Segurança.

Ainda que o evento analisado não seja suficiente para fazer os pesquisadores recomeçarem o trabalho do zero, a paralisação deve atrasar os estudos e a disponibilização dos dados preliminares. Os Estados Unidos têm falado em aprovação emergencial da vacina de Oxford, e essa interrupção tende a afetar a velocidade com que os dados de segurança e eficácia podem estar disponíveis.

Vale notar que, pelos estudos de fase 1 e 2 publicados em julho, a vacina de Oxford está longe de ser livre de efeitos colaterais. Com mais de 1.000 participantes, a pesquisa notou que cerca de 60% das pessoas experimentaram algum tipo de evento adverso, mas a nenhum deles grave ou duradouro e em grande parte amenizados com paracetamol, como febre baixa e dores de cabeça.

A potencial descoberta de um efeito colateral mais grave que torne essa fórmula inviável seria uma péssima notícia, já que a vacina é uma das que tem mais acordos de distribuição pelo mundo, inclusive com o fundo Covax que distribuiria doses para economias menos abundantes. O Brasil já tem 100 milhões de doses previstas para entrega até o começo de 2021, com 30 milhões delas já garantidas com risco, mesmo que a pesquisa não funcione.

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital