Esta segunda-feira (20) é um dia de notícias animadoras sobre vacinas contra Covid-19. Dois dos projetos em fases mais avançadas de testes anunciaram resultados animadores em testes de fase 2, dando mais fôlego para os experimentos da terceira e definitiva etapa.
Para os brasileiros, a notícia mais importante vem da vacina desenvolvida pela farmacêutica AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford, no Reino Unido. Sua vacina apresentou resultados preliminares positivos em um teste com 1.077 voluntários, demonstrando segurança e capacidade de geração de anticorpos e células T contra o coronavírus.
Publicada na revista The Lancet, a pesquisa mostra que 543 dos voluntários receberam a vacina contra a Covid-19, enquanto 534 receberam uma outra vacina ineficaz contra o coronavírus, servindo como placebo. Os pesquisadores notaram mais efeitos adversos entre os voluntários que receberam o composto contra a Covid-19, mas a maioria deles foi leve e amenizado com o uso profilático de paracetamol, incluindo febre, calafrios, dores de cabeça, dores musculares e mal-estar. Nenhum efeito classificado como “severo” foi percebido no grupo de testes.
A pesquisa acompanhou não apenas a produção de anticorpos, mas também as células T, que passaram a ser entendidas como fundamentais para imunidade de médio prazo, já que testes demonstram que anticorpos tendem a se perder a níveis indetectáveis dentro de poucos meses. Após duas aplicações, 100% dos voluntários desenvolveram resposta imunizante contra o vírus, o que é ótimo para um teste de fase 2.
Agora, resta saber se a vacina realmente é capaz de proteger contra o vírus. Isso só é concluído com a fase 3 dos testes, na qual o Brasil está diretamente envolvido. Neste momento, os pesquisadores dividem milhares de voluntários em dois grupos, dando a vacina real para apenas um deles; para o outro, apenas um placebo. Essas pessoas são soltas no mundo para observar se o grupo vacinado está mais protegido contra o vírus que o grupo placebo. Normalmente, esse processo pode levar anos, mas diante da rapidez de transmissão da Covid-19, os pesquisadores esperam chegar a resultados mais rapidamente. A escolha por profissionais da área de saúde, mais expostos pelo contato direto com pacientes com coronavírus, também tem como objetivo antecipar os resultados.
Boas notícias da China
Outra pesquisa que demonstrou resultados veio da chinesa CanSino, que anunciou resultados positivos na fase 2 de testes de sua vacina. O estudo, também publicado na revista científica The Lancet, interpretou que a vacina é segura em humanas e induz resposta imunológica dentro do esperado.
Foram 603 voluntários, dos quais 508 foram efetivamente alocados em algum dos grupos de teste. Entre eles, 126 receberam um placebo, enquanto o restante foi dividido em dois grupos que receberam uma dose completa ou meia dose. Apenas uma aplicação foi necessária.
Entre o grupo que recebeu a maior dose da vacina, com 253 voluntários, 196 (77%) tiveram algum tipo de reação adversa, com 24 (9%) registrando algum efeito classificado como “severo” ou de “grau 3”, que é definido como um tipo de evento capaz de evitar atividade normal de um voluntário. O mais comum entre os efeitos classificados como severos foi a febre, também com relatos de dores de cabeça, fadiga, dores musculares, dores nas articulações e falta de ar. Já na menor dosagem, recebido por 129 participantes, apenas 1 voluntário (menos de 1%) mostrou febre de grau 3, embora 98 (76%) tenham relatado algum evento adverso. Os pesquisadores concluíram que a vacina não criou efeitos adversos graves e duradouros, credenciando o estudo a progredir para a fase seguinte.
Já na questão de imunogenicidade, os pesquisadores também notaram sinais animadores. As duas dosagens da vacina produziram resultados similares, o que é um sinal positivo de que meia dose pode ser suficiente para imunizar um paciente e importante quando se pensa nas bilhões de doses necessárias para imunizar toda a humanidade. Os índices de seroconversão ficaram em 96% e 97% entre os dois grupos.
Os resultados positivos da CanSino já eram esperados desde que o governo chinês anunciou que começaria a usar seu composto para aplicação experimental em militares, demonstrando confiança na pesquisa. A publicação dos dados mostra que a decisão foi fundamentada em dados preliminares animadores.
Agora restará à CanSino avançar para a fase 3 dos testes. A farmacêutica, que já tem parceria com o Canadá, já anunciou que está conversando com vários países no mundo para realização dos experimentos, citando inclusive o Brasil entre possíveis candidatos para os testes. No entanto, o único projeto de vacina chinesa confirmado no país é a CoronaVac, desenvolvida pela Sinovac, e que será aplicada em 9 mil voluntários em seis estados em uma parceria com o Instituto Butantan, ligado ao governo estadual de São Paulo.