Pesquisadores descobrem novas características do Sars-Cov-2

As descobertas indicam como o vírus parece se estabelecer primeiramente na cavidade nasal dos indivíduos infectados
Luiz Nogueira02/06/2020 20h10

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Em um importante estudo publicado na revista Cell, cientistas da UNC School of Medicine e da UNC Gillings School of Global Health conseguiram descobrir algumas características sobre as maneiras específicas pelas quais o Sars-Cov-2 infecta indivíduos.

Os resultados sugerem que o vírus tende a se estabelecer primeiramente na cavidade nasal, mas, em alguns casos, pode ser aspirado para os pulmões, local em que há a possibilidade de causar doenças mais graves, incluindo pneumonia potencialmente fatal.

“Se o nariz é o local inicial dominante a partir do qual as infecções pulmonares são semeadas, o uso generalizado de máscaras pode proteger as passagens nasais. Além disso, quaisquer estratégias terapêuticas que reduzam o vírus no nariz, como irrigações ou sprays antivirais, podem surtir algum efeito”, declarou Richard Boucher, coautor do estudo e professor de medicina e diretor do Instituto Marsico Lung, da UNC School of Medicine.

Ralph Baric, outro coautor da pesquisa e professor de epidemiologia, declarou que a importância do estudo é histórica, pois “revela detalhes novos e inesperados sobre os mecanismos que regulam a progressão e a gravidade da doença após a infecção”.

Principais descobertas

A equipe procurou entender melhor uma série de coisas sobre o vírus, incluindo quais células nas vias aéreas infecta e como entra nos pulmões de pacientes que desenvolvem pneumonia. Vários experimentos utilizaram diferentes cepas de Sars-Cov-2 para verificar com que eficiência eles poderiam infectar células cultivadas de partes diversas das vias aéreas humanas.

Com isso, foi possível descobrir um padrão de variação contínua de infecção das células que revestem as passagens nasais. Como mais vulneráveis à ação do vírus, os especialistas apontam as células presentes na garganta e brônquios, e como menos vulneráveis estão as pulmonares.

Também foi possível apontar que o ACE2 – enzima que o vírus usa para se ligar ao corpo humano – era mais abundante nas células do revestimento nasal e menos nas partículas das vias aéreas inferiores. Essa diferença poderia explicar, pelo menos em parte, porque as células das vias superiores eram mais suscetíveis à infecção.

Outras experiências focaram nas enzimas TMPRSS2 e furina, ambas usadas para a clivagem de proteínas. Pensa-se que o Sars-Cov-2 use esses dois caminhos para remodelar as principais proteínas virais e entrar nas células humanas.

Os testes permitiram confirmar que, quando essas enzimas são mais abundantes, esse coronavírus em específico tem uma capacidade maior de infectar células e fazer cópias de si mesmo.

Os pesquisadores descobriram que o vírus pode se prender às células do revestimento das vias áreas, conhecidas como epiteliais, e, de certa forma, aos pneumócitos, que ajudam a transferir o oxigênio inalado para a corrente sanguínea.

O curioso a se observar nisso é que, aparentemente, o Sars-Cov-2 não infecta quase nenhuma outra célula das vias aéreas, apesar de algumas delas, como as exócrinas bronquiolares, apresentarem tanto ACE2 quanto a TMPRSS2.

Conclusão

Tais descobertas sugerem que existem fatores não descobertos sobre o vírus que ajudam a determinar o curso da infecção em indivíduos – que pode variar de sintomas leves ou inexistentes para a insuficiência respiratória e até a morte.

Com os dados em mãos, a equipe conseguiu determinar também que pessoas infectadas anteriormente por outros coronavírus, como o Sars e Mers, desenvolveram anticorpos, mas que eles não são totalmente eficazes contra o Sars-Cov-2.

No entanto, testes mais profundos indicaram que no sangue de dois de um total de cinco pacientes infectados pelo Sars há um nível baixo, mas ainda significativo, de anticorpos capazes de fornecer alguma proteção contra o novo coronavírus.

“Esses resultados, usando alguma metodologia nova e inovadora, abrem novas direções para estudos futuros sobre o Sars-Cov-2 que podem orientar o desenvolvimento terapêutico e práticas para reduzir a transmissão e a gravidade da Covid-19”, disse James Kiley, diretor da divisão de doenças pulmonares do Instituto Nacional do Coração, Pulmão e Sangue dos Estados Unidos.

Via: Medical Xpress

Luiz Nogueira
Editor(a)

Luiz Nogueira é editor(a) no Olhar Digital