Novo método encontra assinaturas da Covid-19 escondidas na voz

Doença afeta os músculos dos sistemas respiratório e articulatório, responsáveis pela fala. Isso causa mudanças na voz que, embora sutis, podem ser detectadas por um computador
Rafael Rigues09/07/2020 19h22

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Pesquisadores do Laboratório Lincoln no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos EUA, descobriram que é possível detectar casos de Covid-19 analisando amostras da fala de uma pessoa. A infecção afeta o movimento dos músculos nos sistemas respiratório, articulatório e da laringe. Isso causa mudanças na fala que, embora sejam sutis demais para serem detectadas por nós, podem ser identificadas por um computador.

A pesquisa, publicada no jornal IEEE Open Journal of Engineering in Medicine and Biology, foi liderada por Thomas Quatieri, que há mais de uma década lidera o grupo de pesquisa de biomarcadores vocais no laboratório. Originalmente, o grupo estava focado nos marcadores deixados por doenças como Esclerose Lateral Amiotrópica (ALS) e Mal de Parkinson.

A ideia surgiu enquanto Quatieri assistia ao jornal. Ele percebeu que ali havia amostras da voz de pessoas que receberam diagnóstico positivo para a Covid-19. Ele e seus colegas procuraram no YouTube clipes de celebridades ou apresentadores de TV que deram entrevistas enquanto estavam infectadas com o vírus causador da doença, porém ainda assintomáticas.

Eles então procuraram entrevistas destas mesmas pessoas antes de elas serem infectadas, ajustaram as condições de áudio dos dois clipes para que fossem as mais próximas possíveis e usaram algoritmos para extrair características de cada uma das amostras.

“Estas características servem como um indicador dos movimentos do sistema responsável pela fala”, disse a Tanya Talkar, candidata a Ph.D no programa de Tecnologia e Biociência em Fala e Audição na Universidade de Harvard. Por exemplo, o volume da voz reflete o estado do sistema respiratório, enquanto o timbre é afetado pelo estado das cordas vocais.

As mudanças de uma característica em relação às outras foram analisadas a cada 10 milissegundos, e os resultados colocados em um gráfico. A forma do gráfico indica a complexidade dos sinais, e uma redução na complexidade foi detectada em casos de Covid-19.

Entretanto, os pesquisadores alertam que ainda é cedo para tirar conclusões, já que o estudo foi feito usando uma quantidade muito limitada de amostras (apenas cinco casos). Os pesquisadores irão agora aplicar sua técnica a um banco de amostras de voz de pacientes com Covid-19 publicado pela Universidade de Carnegie Melon, nos EUA.

A equipe espera implementar seus algoritmos de análise em aplicativos, que poderiam ajudar um usuário a diagnosticar rapidamente uma suspeita de Covid-19 ou outras doenças que afetam o aparato vocal.

“Há muitas outras áreas interessantes a explorar. Aqui analisamos apenas os impactos fisiológicos no trato vocal. Mas estamos considerando expandir nossos biomarcadores para levar em conta impactos neurofisiológicos ligados à Covid-19, como a perda do paladar ou olfato”, dis Quatieri. “Estes sintomas também podem afetar a fala”.

Fonte: Medical Express

Colunista

Rafael Rigues é colunista no Olhar Digital