Voluntário de vacina de Oxford morre de Covid no Brasil após supostamente receber placebo

Caso já é investigado, mas testes não serão interrompidos; jornal indica que ele recebeu apenas um composto inerte, mas pesquisadores não confirmam
Renato Santino21/10/2020 17h48, atualizada em 21/10/2020 18h00

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As pesquisas com a vacina AZ1222, da farmacêutica AstraZeneca com a Universidade de Oxford, encontraram um obstáculo no Brasil. Um voluntário dos testes, um médico de 28 anos, morreu em decorrência de complicações da Covid-19.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que supervisiona os ensaios clínicos das vacinas no Brasil, foi alertada sobre a ocorrência durante a segunda-feira (21). Como informou o órgão ao jornal O Globo, os pesquisadores já encaminharam os dados para a análise e o caso já está sendo investigado.

Há sigilo sobre a qual grupo de testes o voluntário pertencia, mas a publicação diz ter conseguido apurar que ele não recebeu a vacina que está sendo pesquisada, e sim o placebo, que não tem qualquer eficácia contra o vírus; no caso, o placebo é uma vacina contra meningite. Os responsáveis, no entanto, não falam abertamente sobre o tema por enquanto para poder confirmar ou negar a informação.

A Anvisa também afirma que o Comitê Internacional de Avaliação de Segurança que acompanha os ensaios clínicos recomendou que os testes não sejam paralisados, mesmo com a ocorrência. Mortes por Covid-19 estão dentro do protocolo de pesquisas, e a única justificativa para a suspensão é a descoberta de um evento adverso não esperado. Foi o caso de uma voluntária no Reino Unido que desenvolveu mielite transversal, forçando a interrupção global dos testes até que a investigação concluiu que a condição não foi causada pela vacina.

Apesar da informação de que o voluntário fazia parte do grupo placebo, existem alguns cenários que podem explicar a Covid-19 em participantes nos testes clínicos.

  1. O paciente recebeu o placebo e não tinha nenhuma proteção. Neste caso, os resultados da vacina não são afetados negativamente;
  2. A vacina oferece proteção parcial, mas não funcionou com o voluntário em questão. Dependendo de quão recorrente eventos como esse forem, a aprovação da vacina pode estar em risco, já que a Anvisa exige eficácia mínima de 50% para obtenção do registro;
  3. A vacina não funciona, e os voluntários não desenvolvem imunidade ao vírus. Neste caso, a vacina não será aprovada;
  4. Finalmente, o pior dos cenários é a amplificação dependente de anticorpos (ADE), quando a resposta imunológica produzida pelo organismo intensifica a doença em vez de gerar proteção. É o que acontece com a dengue: se o corpo cria imunidade contra uma das quatro variações do vírus, uma nova infecção causada pelas outras três variações tem maior risco de desenvolver a forma hemorrágica e mais grave da doença.

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital