Vacinas chinesas avançam, mas enfrentam desafios nos testes

À medida que o vírus está controlado na China, os laboratórios que trabalham em vacinas têm de encontrar outros países para testá-las
Luiz Nogueira31/07/2020 13h54, atualizada em 31/07/2020 14h00

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Atualmente, quase 200 vacinas contra a Covid-19 estão em desenvolvimento pelo mundo. Algumas delas encontram-se em estágios de testes em humanos. No entanto, ainda precisam de mais algum tempo até que possam ser distribuídas para a população.

Na China, por exemplo, mais de uma dúzia de candidatas estão em desenvolvimento. Algumas delas encontram-se em estágios avançados, quase chegando no que é chamado de Fase III. Geralmente, esses testes exigem a aplicação em muitos participantes. A ideia é garantir que a imunização é eficaz. Porém, os pesquisadores podem encontrar problemas em encontrar muitos voluntários. Isso porque o surto na China encontra-se controlado.

Reprodução

China enfrenta alguns problemas em relação às vacinas em desenvolvimento. Foto: Dimitri Houtteman/Pixabay

Por conta disso, as empresas precisarão sair do país para testar as vacinas. Mas, além do problema de locomoção e transporte, os envolvidos nos estudos podem encontrar dificuldades em recrutar profissionais de saúde suficientes para coletar os dados.

Acima de tudo, ainda pode haver certa desconfiança acerca das vacinas produzidas pela China, o que exigiria uma análise mais atenta às criações. Isso ocorre desde 2018, quando centenas de milhares de crianças teriam recebidos vacinas defeituosas contra difteria, tétano e poliomielite. Por conta desse incidente, o setor desenvolveu certo receio.

Testes de vacina

Neste mês, a empresa chinesa Sinovac iniciou os testes de sua vacina no Brasil. A Sinopharm, outra empresa com sede na China, vai usar suas vacinas em voluntário dos Emirados Árabes Unidos. Resta saber se os dados coletados em ambos os testes serão suficientes para mostrar às agências reguladoras que as imunizações funcionam.

Demonstrar que vacinas provocam uma resposta imune e protegem as pessoas do vírus requer dados de 20.000 a 40.000 voluntários que foram divididos em grupos de controle e teste, e seguidos de perto por vários meses ou mesmo anos, dizem os cientistas. Para alcançar os números necessários, os ensaios podem precisar combinar resultados de dezenas de hospitais, cada um fornecendo dados de centenas de pacientes.

No entanto, por aqui, a vacina da Sinovac será testada em apenas nove mil profissionais de saúde, número bem abaixo do recomendado. Porém, Ricardo Palacios, pesquisador clínico do Instituto Butantan, disse que a forma como a vacina será aplicada vai fornecer “respostas de uma maneira mais eficiente”.

Outro questionamento feito por autoridades de saúde é se, caso as vacinas em desenvolvimento no país se mostrem eficazes, as empresas serão capazes de trabalhar na velocidade prometida e com a precisão que esses projetos exigem.

Apesar de tudo isso, o mais importante, segundo Jerome Kim, diretor-geral do Instituto Internacional de Vacinas em Seul, é que os ensaios coletem dados que cumpram os padrões internacionais esperados pelos reguladores de medicamentos e por órgãos internacionais, como a Organização Mundial da Saúde.

Via: Nature

Luiz Nogueira
Editor(a)

Luiz Nogueira é editor(a) no Olhar Digital