Primeiras vacinas contra a Covid-19 podem não proteger contra infecção

Uma das abordagens é impedir que as pessoas desenvolvam a forma severa da doença, que pode levar à insuficiência respiratória e hospitalização
Rafael Rigues15/06/2020 12h25

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De acordo com a Organização Mundial de Saúde, no momento há mais de 130 vacinas contra a Covid-19 em desenvolvimento. Na corrida para criação de uma forma de conter a pandemia várias abordagens estão sendo testadas, das mais tradicionais (uso de um vírus inativo) àquelas baseadas em engenharia genética. Incluindo uma que pode soar estranha: uma vacina que não impede o paciente de ser infectado pelo vírus.

Em vez disso, ela impediria a pessoa de desenvolver uma forma severa da doença, que pode levar à insuficiência respiratória e hospitalização. É o que diz Robin Shattock, professor do Imperial College em Londres e líder de uma equipe que tenta desenvolver uma vacina, ao definir o termo: “É proteção contra infecção? É proteção contra doença? É proteção contra uma forma severa da doença? É possível que uma vacina que proteja apenas contra uma forma severa seja muito útil”.

Dennis Burton, imunologista e pesquisador de vacinas na Scripps Research em La Jolla, California, concorda: “As vacinas precisam proteger contra a doença, não necessariamente contra a infecção”, afirma.

Ao menos uma das vacinas em desenvolvimento que avançou ao estágio de teste em humanos adota essa abordagem, mostrando um impacto severo na doença, mas não na infecção, em animais. É o caso da vacina sendo desenvolvida pela Moderna, uma empresa farmacêutica norte-americana. A empresa declarou na última quinta-feira que seu objetivo é mostrar que a vacina impede que as pessoas desenvolvam sintomas severos. A proteção contra infecção é um “objetivo secundário”.

Há quem critique esta abordagem, temendo que ela possa levar à complacência. “Meu palpite é que, no dia seguinte a uma pessoa ser imunizada, ela pensará: ‘posso voltar ao normal. Tudo vai ficar bem’. Elas não vão necessariamente perceber que ainda podem ser suscetíveis à infecção”, disse Michael Kinch, especialista em desenvolvimento de medicamentos que é vice-chanceler associado da Universidade de Washington em St. Louis.

Para a FDA, órgão do governo dos EUA que regulamenta a produção de medicamentos, ambas as abordagens são válidas. “Podemos considerar uma indicação relacionada à prevenção dos sintomas severos, desde que os dados disponíveis comprovem os benefícios da vacinação”, disse Michael Felberbaum, porta-voz da organização. “Para licenciamento, não exigiremos que uma vacina proteja contra a infecção”.

Fonte: Bloomberg

Colunista

Rafael Rigues é colunista no Olhar Digital