Estudos associam a diabetes ao aumento do risco de complicações da Covid-19. Entretanto, para um grupo de cientistas de universidades da Ásia, Oceania, Europa e EUA, a relação entre as duas doenças pode ser mais complexa.
Em carta publicada na revista New England Journal of Medicine (NEJM), a equipe anunciou um projeto para investigar se casos graves de infecção pelo novo coronavírus podem desencadear quadros de diabetes em pacientes previamente saudáveis. A proposta consiste em criar um banco de informações chamado CoviDIAB para reunir registros de pacientes que apresentaram problemas associados à diabetes durante a manifestação da Covid-19.
A diabetes é causada pela produção insuficiente ou má absorção de insulina, o hormônio responsável por regular os níveis de glicose no sangue. Existem duas categorias da doença. O tipo 1 é hereditária e acontece devido a uma disfunção do sistema imune, em que o próprio organismo ataca as ilhotas pancreáticas, as células que produzem a insulina.
O tipo 2 acontece devido à incapacidade do corpo de absorver adequadamente a insulina produzida. O problema está diretamente associado ao sobrepeso, sedentarismo e hipertensão. De acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes cerca de 7% da população do Brasil convive com algum dos dois tipo da doença.
Mais de 50 mil brasileiros já morreram devido a complicações da Covid-19. Imagem: Agência Brasil
O grupo de pesquisadores afirma que trabalhos científicos apontam a ocorrência de sintomas graves característicos da diabetes em pessoas contaminadas com Covid-19, incluindo casos de cetoacidose diabética e hiperosmolaridade. Eles explicam que as células pancreáticas apresentam abundância do receptor ACE2, ou enzima conversora da angiotensina 2. O novo coronavírus combina sua proteína espinhosa com o ACE2 para introduzir o material genético dentro da célula.
A infecção pode provocar alterações na função celular, levando a anormalidades nos mecanismos de controle da glicose no sangue. Os cientistas argumentam também que a invasão acarreta inflamação aguda da células, que resulta na morte das ilhotas pancreáticas.
Segundos os estudiosos, pesquisas também documentaram sintomas de diabetes em pacientes com quadros de pneumonia provocados por Sars. Os mesmos sinais, porém, não foram identificados em casos de pneumonia decorrentes de outras doenças. Também causada por um coronavírus, a SARS protagonizou uma epidemia no leste da Ásia entre 2002 e 2004.
Na maioria dos casos, os sintomas de diabetes em pacientes com Sars sumiram após três anos. Entretanto, as condições ainda persistiram em 10% das ocorrências.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes, quem tem a doença não tem maior risco de se contaminar pelo coronavírus, mas tem maior risco de complicações pela infecção. Imagem: iStock
“Essas observações sustentam a hipótese de um potencial efeito diabetogênico do Covid-19, além da bem reconhecida resposta ao estresse associada à doença grave. No entanto, ainda não está claro se as alterações do metabolismo da glicose que ocorrem com um início repentino de diabetes na Covid-19 grave persistem ou regridem quando a infecção acaba.”, afirmam os pesquisadores na nota enviada ao NEJM.
O comunicado ainda destaca que é necessário entender se os sintomas provocados pela Covid-19 podem ser enquadrados como diabetes tipo 1, tipo 2 ou em uma nova categoria da doença metabólica.
“Esses pacientes mantêm maior risco de diabetes ou cetoacidose diabética? Em pacientes com diabetes preexistente, a Covid-19 altera a fisiopatologia subjacente e a história natural da doença? Responder a essas perguntas para apoiar o atendimento clínico imediato e o acompanhamento dos pacientes afetados é uma prioridade.”.