Não há evidência de imunidade de rebanho no Brasil, diz especialista

Diretor do departamento de doenças contagiosas da Organização Pan-Americana de Saúde ainda declara que estudos indicam que os anticorpos produzidos pelo corpo começam a desaparecer após três meses
Luiz Nogueira14/07/2020 20h25, atualizada em 14/07/2020 21h00

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A imunidade de rebanho é um conceito em que o número de pessoas imunes a um vírus é tão alto que a doença deixa de circular entre uma população. Isso faz com que, indiretamente, os que ainda não se infectaram permaneçam livres de contrair o novo coronavírus, por exemplo. Essa é justamente a esperança de alguns especialistas de saúde brasileiros.

No entanto, de acordo com Marcos Espinal, diretor do departamento de doenças contagiosas da Organização Pan-Americana de Saúde, braço latino-americano da Organização Mundial da Saúde (OMS), “não há nenhuma evidência de que a imunidade de rebanho possa ter sido atingida em qualquer parte do Brasil”. A declaração foi feita após um questionamento feito pela BBC News Brasil.

Recentemente, especialistas e diversos estudos levantaram a possibilidade de que alguns locais, como São Paulo e Manaus, atingiram essa imunidade, pois, após um período de crescimento exponencial de casos, apresentou quedas que permitiram a reabertura gradual dos comércios e a circulação maior de pessoas.

No entanto, segundo Espinal, para que a imunidade de rebanho fosse atingida, entre 50% e 80% da população deveria ter desenvolvido anticorpos contra a doença. A partir disso, a possibilidade poderia ser considerada.

Atualmente, de acordo com levantamento da OMS, a taxa que representa a presença de anticorpos nas populações de Manaus e São Paulo é de pouco mais de 14% e 3%, respectivamente.

Questionamento do conceito

Reprodução

Especialista indica que ‘não há nenhuma evidência de que a imunidade de rebanho possa ter sido atingida em qualquer parte do Brasil’. Foto: PxHere 

Apesar do que foi apontado por epidemiologistas, Espinal questiona o conceito da imunidade de rebanho. De acordo com ele, estudos recentes indicam que os anticorpos produzidos contra a doença começam a desaparecer após três meses que a pessoa teve a infecção.

O que pode acontecer caso alguém seja exposto novamente ao vírus após ter parado de produzir anticorpos ainda é um mistério. Há hipóteses que indicam que o corpo retoma a produção da proteção caso tenha um novo contato com o vírus. Há também a chance de que o indivíduo desenvolva um novo quadro da Covid-19.

O que foi descoberto até então é que o novo coronavírus se assemelha muito à gripe, o que pode significar que, após um tempo, a pessoa pode se infectar novamente, pois não há como o corpo desenvolver imunidade definitiva.

Coronavírus nos esgotos

Outra descoberta intrigante feita recentemente é que o novo coronavírus pode estar circulando nos esgotos desde o ano passado. Pesquisadores de cinco países – incluindo do Brasil – descobriram a presença do vírus em amostras de esgoto coletadas antes mesmo do primeiro caso ser registrado no local que foi considerado o epicentro da doença, a cidade de Wuhan, na China.

Os estudos encontraram indícios do novo coronavírus circulando semanas ou até meses antes do primeiro caso vir à tona.

A pesquisa mais intrigante foi feita em Barcelona. Lá, pesquisadores analisaram amostras de esgoto coletadas em duas ocasiões: 15 de janeiro de 2020 e 12 de março de 2019. O resultado colocou em xeque o que se sabia até o momento.

Na amostra do dia 15, o vírus foi detectado, o que pode ser considerado normal, considerando que o material foi coletado 41 dias antes do primeiro caso oficialmente registrado. Com isso, pode-se concluir que a doença já estava circulando pela Espanha antes de explodir em um surto.

No entanto, o que mais chamou a atenção dos cientistas é que a amostra de 12 de março, nove meses antes do primeiro caso de Wuhan ser registrado, possuía assinaturas da doença. Para explicar o que pode ter ocorrido, os especialistas levantaram algumas hipóteses.

No Brasil, um estudo fez a mesma descoberta dos especialistas de Barcelona. Por aqui, a equipe liderada por pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) teve acesso a seis amostras de esgoto congelado. O material foi coletado em Florianópolis, em um período que foi de 30 de outubro de 2019 a 4 de março de 2020.

A pesquisa ainda não passou por revisão. No entanto, foi descoberta a presença do vírus nas amostras a partir de 27 de novembro. De acordo com os resultados, o material possuía 100 mil cópias do genoma do vírus por litro. Esse valor é cerca de um décimo do que foi identificado na coleta mais recente, de 4 de março.

Via: Uol

Luiz Nogueira
Editor(a)

Luiz Nogueira é editor(a) no Olhar Digital