Médicos testam uso de hormônio feminino no tratamento da Covid-19

Alguns pesquisadores atribuem uma maior resistência das mulheres ao novo coronavírus a hormônios como estrogênio e progesterona
Renato Mota27/04/2020 22h49

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Entre os grupos populacionais que parecem ser mais afetados pela Covid-19 (ou afetados de forma mais rigorosa) estão os idosos, pessoas com doenças cardíacas ou pulmonares, fumantes, diabéticos e, aparentemente, homens. Enquanto estatísticas mostram que mulheres têm menos chances de ficar gravemente doentes (e estão mais propensas a sobreviver), pesquisadores nos Estados Unidos estão testando o uso de hormônios femininos no tratamento de alguns pacientes.

Dados de cerca de 1,5 milhão de testes realizados nos EUA até o dia 10 de abril mostram que a maioria das pessoas testadas, 56%, eram mulheres. Dessas mulheres, 16% deram positivo para o vírus. Por outro lado, apenas 44% dos testes foram feitos em homens e 23% deles tiveram resultados positivos.

“Há uma diferença marcante entre o número de homens e mulheres na unidade de terapia intensiva – e os homens estão claramente piorando”, afirma a pneumologista Sara Ghandehari, que trabalha no hospital Cedars-Sinai, em Los Angeles, onde 75% dos pacientes que hoje dependem de respiração mecânica são homens.

Mulheres grávidas, que também fazem parte do grupo de risco, têm altos níveis de estrogênio e progesterona, e tendem a ter sintomas leves da doença. A progesterona em particular possui propriedades anti-inflamatórias e pode prevenir reações exageradas e prejudiciais do sistema imunológico. “Então algo sobre ser mulher é um fator de proteção, bem como algo sobre gravidez, o que nos faz pensar nos hormônios”, explica Ghandehari, que está liderando a pesquisa.

Relatórios da China já indicavam que homens estavam morrendo em maior quantidade, mas na época a disparidade dos dados foi atribuída a taxas mais altas de fumantes. Mas os resultados foram consistentes em outros países como Itália e EUA – em Nova York, homens estavam morrendo com quase o dobro da taxa de mulheres.

Para alguns cientistas, diferenças biológicas na imunidade e fatores comportamentais estão em jogo. Os homens fumam mais em quase todos os lugares e lavam menos as mãos. Embora as mulheres pareçam ter sistemas imunológicos mais robustos, as causas para o agravamento da Covid-19 são complexas e multifatoriais, e os hormônios são apenas parte do quadro.

“Se esses hormônios sexuais fossem o principal fator de proteção para as mulheres, as mulheres idosas com Covid-19 se sairiam tão mal quanto os homens idosos, porque os hormônios reprodutivos femininos despencam após a menopausa”, afirma a pesquisadora Sabra Klein, que estuda diferenças sexuais em infecções virais e vacinação na Escola de Saúde Pública Johns Hopkins Bloomberg.

“Vemos esse viés ao longo da vida”, segue Klein. “Os homens mais velhos ainda são desproporcionalmente afetados, e isso sugere que deve ser algo genético, ou algo mais, que não seja apenas hormonal. O estrogênio tem propriedades imunomoduladoras e você pode obter um efeito benéfico em homens e mulheres”, completa.

Via: New York Times

Editor(a)

Renato Mota é editor(a) no Olhar Digital