Imunidade coletiva pode ter sido alcançada em partes do Brasil, dizem pesquisadores

Apesar disso, especialistas ressaltam que a pandemia não acabou
Luiz Nogueira21/08/2020 14h03, atualizada em 21/08/2020 14h20

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Cientistas apontam que alguns lugares do mundo, incluindo partes do Brasil, podem ter alcançado o que especialistas chamam de imunidade coletiva contra o novo coronavírus. Isso ocorre quando uma doença não encontra um número suficiente de pessoas vulneráveis para poder infectar. Com isso, ela não consegue continuar se propagando.

Por aqui, Rio de Janeiro, São Paulo e Manaus, por exemplo, apresentam queda no número de casos diários. Além disso, não foi registrado crescimento significativo nos últimos 30 dias. Mesmo assim, Gabriela Gomes, biomatemática da Universidade de Strathclyde, na Escócia, diz que o limiar da imunidade coletiva varia dentro de um mesmo país, principalmente em territórios com grande extensão, como o Brasil e os Estados Unidos.

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Partes do Brasil podem ter alcançado imunidade coletiva. Foto: PxHere

“Só teremos imunidade coletiva ampla com vacina. Mas a força da pandemia já está reduzida em algumas partes do mundo, como na Europa e em parte da China. Também em regiões dos EUA e do Brasil, onde cada estado deve ser pensado como um país. Estamos mais próximos de voltar à normalidade. É importante que isso seja comunicado às pessoas”, declara.

Apesar do distanciamento social ter sido limitado ou baixo, Manaus, Rio de Janeiro e São Paulo apresentaram queda no número de novos casos. Segundo Gabriela, esse é um dos indicativos de imunidade coletiva.

Mesmo assim, especialistas fazem ressalvas em relação à utilização da imunidade coletiva para orientar políticas de governo. Segundo eles, isso não deve acontecer, já que ainda não se sabe se pode ser definitivo. Isso porque a defesa adquirida contra a doença pode não ser permanente. Além disso, ainda há riscos, principalmente de morte, já que as pessoas continuam se infectando – mesmo que em menor quantidade.

Infecção persistente

Vale lembrar também que mesmo que a imunidade coletiva seja alcançada, não quer dizer que a pandemia acabou, apenas que o ritmo de propagação foi diminuído. É o que informa Rodrigo Corder, doutorando do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo, e membro do grupo de pesquisa de Gabriela.

Em entrevista ao Globo, ele explica que, “mesmo quando é atingida [imunidade coletiva], o distanciamento social e a máscara são necessários para que continue a reduzir efetivamente e não tenhamos uma subida de casos. Enquanto não temos vacina, o melhor cenário é interromper a transmissão dessa forma”.

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Imunidade ampla só deve ser atingida com a aplicação da vacina. Sefa Ozel/iStock

Há também uma grande diferença entre a imunidade adquirida naturalmente e a promovida por uma vacina. No primeiro caso, as pessoas são expostas ao vírus em níveis diferentes. Isso faz com que os indivíduos vulneráveis ainda estejam suscetíveis à infecção. Por outro lado, com a aplicação de um imunizante, é possível homogeneizar uma população por meio da vacinação.

Estimativa de imunidade

Os modelos tradicionais de pesquisa indicam que o limiar da imunidade coletiva poderia ser de 70%. No entanto, o estudo liderado por Gabriela afirma que essa porcentagem é de cerca de 20%. Para chegar a esse cálculo, os especialistas utilizaram um modelo complexo que considera a heterogeneidade da população – usando fatores como grau de exposição e suscetibilidade.

Segundo Gabriela, a abordagem escolhida se diferencia da maioria dos modelos tradicionais existentes, que partem da ideia de que a população dos países é homogênea, fazendo simplificações na captação das informações.

“Simulamos epidemias com diferentes coeficientes de infecção e calibramos à medida que os dados vão surgindo. É um cálculo mais complexo, não foi bem aceito de início, mas creio que a realidade validou nosso modelo, os nossos resultados se confirmaram. As pessoas estão vendo que o número de casos novos está baixando”, finaliza.

Via: O Globo

Luiz Nogueira
Editor(a)

Luiz Nogueira é editor(a) no Olhar Digital