Hidroxicloroquina não é mais eficaz que tratamento convencional, diz estudo

Conduzida na China, pesquisa não observou diferenças significativas entre pacientes que usaram a droga e pessoas tratadas da forma convencional; um deles apresentou diarreia e danos ao fígado
Renato Mota25/03/2020 22h23

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Apontado como um medicamento em potencial para curar a Covid-19, a hidroxicloroquina não seria mais eficaz que o tratamento convencional, aponta um relatório publicado pelo Journal of Zhejiang University, na China. A substância teve seu ensaio clínico liberado no Brasil no último domingo (22).

O estudo envolveu apenas 30 pacientes. Dos 15 pacientes que receberam o medicamento contra a malária, 13 apresentaram resultado negativo para o coronavírus após uma semana de tratamento. Dos 15 pacientes que não receberam a hidroxicloroquina, 14 apresentaram resultado negativo para o vírus.

O tratamento convencional inclui repouso, inalação de oxigênio e uso de medicamentos antivirais recomendados nas diretrizes de tratamento da China, como lopinavir e ritonavir, e antibióticos quando necessário. Um paciente tratado com hidroxicloroquina evoluiu para doença grave durante o estudo e outros quatro desenvolveram diarreia e sinais de possíveis danos ao fígado, em comparação com três recebendo tratamento convencional.

Os pesquisadores concluíram que estudos adicionais usando um número maior de pacientes são necessários para investigar completamente os riscos e benefícios da droga. Pela pouca abrangência, os resultados do estudo, realizado por pesquisadores do Departamento de Infecção e Imunidade do Centro Clínico de Saúde Pública de Xangai, não são estatisticamente significativos.

A hidroxicloroquina, particularmente quando administrada com o antibiótico azitromicina, recebeu ampla atenção após um pequeno e controverso estudo de cerca de 40 pacientes hospitalizados com Covid-19 na França.

Nesse estudo, o medicamento pareceu ajudar a eliminar o vírus dos corpos de 26 pacientes que receberam o medicamento. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou várias vezes que está confiante de que o medicamento funcionará. No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro também é um entusiasta do tratamento.

O Hospital Universitário de Marselha, na França, já trata doentes da doença com a substância. Assim como está sendo feito no Brasil, o tratamento é apenas experimental e não se restringe apenas a um único medicamento. No total, são quatro tratamentos experimentais sendo aplicados em 3.200 voluntários, espalhados por sete países europeus.

De acordo com um experimento preliminar, feito pelo professor Didier Raoult, especialista em doenças infecciosas e diretor do Instituto Mediterrâneo de Infecção de Marselha, há resultados positivos no uso da cloroquina – usada para tratar a malária – e a hidroxicloroquina – prescrita para casos de artrite reumatoide e lúpus – no tratamento da Covid-19.

No entanto, especialistas pedem cautela no uso do medicamento. Isso porque, assim como qualquer outro remédio, o uso em grandes quantidades pode trazer diversos efeitos colaterais. Eles ainda alertam que se deve esperar resultados mais aprofundados antes de realizar experimentos em larga escala.

Via: Bloomberg

Editor(a)

Renato Mota é editor(a) no Olhar Digital