Estudo brasileiro testa uso de hormônio feminino para tratar Covid-19

Cientistas da Unifesp já pesquisam 40 compostos com estrogênios
Redação14/05/2020 17h01, atualizada em 14/05/2020 18h00

20200514020949

Compartilhe esta matéria

Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

Pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) investigam o papel de estrogênios, hormônio feminino relacionado ao processo de ovulação, na proteção fisiológica do corpo humano contra o novo coronavírus. O estudo se fundamenta em pesquisas realizadas anteriormente com o coronavírus da síndrome respiratória aguda grave (SARS).

Em entrevista à Agência Fapesp, o professor da Unifesp e coordenador do projeto, Rodrigo Portes Ureshino, disse que trabalhos científicos anteriores apontaram diferenças na progressão da SARS entre homens e mulheres, com mais suscetibilidade de complicações para o sexo masculino. Segundo ele, as pesquisa indicaram que os estrogênios podem estar associadas à maior proteção fisiológica das mulheres.

“Queremos testar se o mesmo ocorre com o Sars-CoV-2, o novo coronavírus, para chegar a compostos com potencial terapêutico”, disse Ureshino à Agência FAPESP.

A equipe de cientistas, que também conta com professores da USP, já faz experimentos para testar soluções. Os pesquisadores infectaram linhagens de células com o coronavírus e planejam testar mais de 40 compostos com atividade estrogênica para observar os resultados.

Reprodução

Compostos aplicados

Entre os compostos que serão aplicados, Ureshino destaca o 17β-estradiol (o estrógeno mais abundante no organismo), o tamoxifeno (um modulador seletivo dos receptores estrogênicos) e a agenisteína (um fitoestrógeno). Todos os três já foram utilizados com sucesso em modelos de outras doenças virais.

Os pesquisadores ainda estudam relações entre receptores de estrogênios e a enzima conversora de angiotensina II (ACE-2). “Sabemos que os pacientes hipertensos, grupo de risco para a Covid-19, apresentam uma maior expressão de ACE-2 e isso favorece a entrada do vírus nas células. Por isso, estamos estudando a superexpressão desse receptor em diferentes tipos celulares”, afirmou Ureshino.

Além dos cientistas da Unifesp, outros institutos de pesquisa no exterior também investigam tratamentos com hormônios femininos, incluindo a progesterona.

Homens podem ser mais suscetíveis à doença

Embora ainda não seja possível afirmar com certeza que características fisiológicas tornam homens mais vulneráveis ao novo coronavírus, alguns estudos preliminares e estatísticas indicam essa possibilidade.

Dados de cerca de 1,5 milhão de testes realizados nos EUA coletados até o dia 10 de abril mostram que da maioria das pessoas testadas, 56% eram mulheres. Dessas, 16% receberam diagnóstico positivo para o vírus. Por outro lado, apenas 44% dos testes foram feitos em homens e 23% deles tiveram resultados positivos.

Na China, um levantamento do Centro de Controle e Prevenção de Doenças chinês feito em abril revelou que 64% dos mortos por Covid-19 eram do sexo masculino. A tendência também foi observada em outros países como França, Alemanha, Irã, Itália, Coreia do Sul e Espanha. Porém, ela não permite a conclusão sobre aspectos fisiológicos, uma vez que pode ser influenciada pelo comportamento e estilo de vida associados ao gênero do paciente.

Já um estudo conduzido por especialistas da Sociedade Europeia de Cardiologia, publicado nesta segunda-feira (11) no European Heart Journal, apresentou evidências que os homens possuem maior concentração da enzima Angiotensina II (ACE 2) no sangue se comparados às mulheres.

Fonte: Agência Fapesp

Colaboração para o Olhar Digital

Redação é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital