Aos poucos, os casos de reinfecção por Covid-19 começam a se acumular e a ser documentados com maior cuidado. Agora foi a vez do Equador registrar a situação de um paciente diagnosticado pela segunda vez, com sintomas mais graves do que no primeiro contágio. É o primeiro caso do tipo confirmado na América Latina.

O paciente em questão é um profissional de saúde que teve sintomas leves da Covid-19 em maio deste ano e foi diagnosticado por meio de um exame RT-PCR. Sem doenças preexistentes, ele teve apenas dores de cabeça e cansaço por três dias e logo melhorou. Após realizar um novo exame, realizado em junho, o resultado veio negativo, indicando a cura.

No entanto, os pesquisadores relatam que, em agosto, ele passou novamente pelos sintomas da Covid-19, desta vez mais graves. Ele teve febre de 38,5°, dores nas costas, tosse e dificuldade para respirar, mas não precisou de hospitalização. Novamente, ele foi testado e o RT-PCR trouxe resultado positivo. Agora, no entanto, ele já está recuperado e negativado para o vírus novamente.

Os pesquisadores então compararam amostras das duas infecções para constatar que realmente foram dois contágios diferentes. Existem casos registrados em que o vírus simplesmente “adormece”, sem ser eliminado pelo organismo, e pode voltar a causar sintomas depois de algum tempo, que não caracterizam reinfecção. Com o sequenciamento genético das duas amostras de vírus, os cientistas concluíram que se tratavam de linhagens diferentes do vírus, devido a 19 diferenças no genoma.

Com isso, a comunidade científica mundial já reporta cinco casos de reinfecção atestada com base em análise de genoma das amostras do vírus. A primeira delas foi registrada em Hong Kong, seguida por um anúncio simultâneo de dois casos na Europa, um na Bélgica e outro na Holanda e, na sequência, foi a vez de cientistas dos Estados Unidos confirmarem um caso.

No entanto, pode haver outros casos de reinfecção que a ciência ainda não conseguiu confirmar pelo método de mapeamento genético das amostras virais. No próprio Equador, há dois outros casos suspeitos, segundo Paul Cárdenas, pesquisador da Universidade San Francisco de Quito, com a primeira amostra guardada para fazer a comparação, mas ele menciona que pode haver mais que não podem ser analisados desta forma porque a primeira amostra foi descartada, o que normalmente acontece com laboratórios privados. No paciente reinfectado, ele foi testado pela universidade nas duas ocasiões, o que permitiu aos cientistas guardar o material para comparação.

O pesquisador também reforça o que se tem dito até o momento nos outros países onde foi registrada reinfecção: não é porque alguns pacientes se contaminam pela segunda vez que isso será recorrente. Algumas pessoas podem não registrar uma resposta imunológica tão poderosa após a primeira exposição ao vírus e podem ter propensão a um segundo contágio, mas esses casos ainda são raros, especialmente com sintomas que possam levar as pessoas a procurar ajuda médica e se testar novamente. Não significa que isso é comum, nem que vacinas não serão úteis contra a Covid-19.