O fumarato de tenofovir desoxipropila, droga usada no tratamento de pessoas com Aids, tornou-se uma esperança no combate ao novo coronavírus. Cientistas brasileiros testaram o medicamento com sucesso o antirretroviral contra o Sars-Cov-2 em laboratório. Os testes em pessoas devem começar dentro de duas semanas, com pacientes de baixa e média gravidade.

O tenofovir não faz parte da lista de medicamentos selecionados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para testes em larga escala. No entanto, um grupo de pesquisadores de São Paulo descobriu que sua composição o torna um candidato em potencial para combater a Covid-19.

A droga tem capacidade de se ligar em um trecho específico de uma proteína importante para a multiplicação do vírus dentro de células humanas infectadas, de acordo com Eurico Arruda, professor titular de virologia da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto e um dos autores do estudo.

Norberto Lopes, pesquisador do Núcleo de Apoio à Pesquisa em Produtos Naturais e Sintéticos (NPPNS), da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP de Ribeirão Preto, foi quem percebeu que a estrutura química do tenofovir o tornava um candidato promissor contra o Sars-Cov-2.

Lopes estuda formas de simplificar e baratear a síntese de antirretrovirais usados no tratamento de HIV e conhece bem sua estrutura. Ele trabalhou em colaboração com Giuliano Clososki, também da Faculdade de Ciências Farmacêuticas.

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Representação do vírus da Aids na corrente sanguínea. Imagem: Reprodução

Droga atua na multiplicação do vírus

Arruda e Luis Lamberti da Silva, também da Faculdade de Medicina da USP, testaram a droga em laboratório e verificaram que o tenofovir impedia o mecanismo de multiplicação do coronavírus. Assim, sua replicação fica ineficiente e a infecção não se propaga.

Na cultura de células, o tenofovir conteve o Sars-Cov-2. O próximo passo é descobrir se o sucesso in vitro se repete também em pacientes, etapa na qual muitos medicamentos fracassaram.

Os testes clínicos com pacientes infectados serão realizados em parceria com o Hospital São José de Doenças Infecciosas, de Fortaleza. O hospital do governo do Ceará participa de diversos estudos contra a Covid-19 e se interessou pelo tenofovir.

Arruda diz que após receber autorização da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), os testes em humanos devem ser iniciados em duas semanas, em projeto apoiado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.

Os pacientes envolvidos na pesquisa serão aqueles cujo quadro ainda não evoluiu para a chamada “tempestade imunológica”, quando o ataque descontrolado do sistema imunológico passa a ser pior do que o próprio vírus. São pacientes com menor gravidade, mas com potencial da evolução da doença poder ser revertido com o uso de medicamentos.

O tenofovir será testado tanto sozinho como em combinação com outro antirretroviral chamado entricitabina. Os dois já são usados juntos no coquetel de tratamento da Aids.

“Nenhuma dessas drogas de uso redirecionado é a solução para a Covid-19”, explica Arruda. “Mas, potencialmente, podem ajudar muito os doentes num momento em que não existe tratamento específico, vacina, e o Brasil já passa do meio milhão de infectados”.

Via: O Globo