Covid-19: número de assintomáticos pode ser maior, indicam pesquisas

Especialistas acreditam que os atuais testes rápidos não oferecem a precisão necessária para apontar todos os casos de infectados sem sintomas
Renato Mota22/04/2020 16h59

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O número de infectados pela Covid-19 pode ser muito maior do que o que consta nos registros oficiais – com muitas pessoas infectadas, mas sem apresentar sintomas, afirmam estudos que estão sendo feitos na Europa e nos Estados Unidos. Embora uma quantidade maior de contagiados diminua a taxa de letalidade do vírus, torna mais difícil a já desafiadora tarefa de saber quem está ou não com o novo coronavírus.

No mundo, mais de 2,3 milhões de infecções e mais de 160 mil mortes foram confirmadas, mas o professor de epidemiologia da Escola de Saúde Pública de Harvard, Michael Mina, acredita que esses dados não são totalmente confiáveis, já que partem de testes que podem ser ineficientes.

O Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC) diz que 25% das pessoas infectadas podem ser assintomáticas, enquanto o vice-presidente do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, o general John Hyten, afirma que entre 60% e 70% dos militares estão contaminados. Um hospital em Nova York testou todas as mulheres grávidas que realizaram parto em um período de duas semanas. Quase 14% das que chegaram sem sintomas de coronavírus acabaram tendo a doença. Dos 33 casos positivos, 29 não apresentaram sintomas quando testados, embora algumas os tenham desenvolvido posteriormente.

A bordo do porta-aviões USS Theodore Roosevelt, onde um membro da tripulação morreu com o vírus, “os números aproximados são de 40% sintomáticos” entre os que estão com o vírus, segundo o vice-almirante Phillip Sawyer. Testes em passageiros e tripulantes do navio Diamond Princess, que passou semanas em quarentena, ancorado no Japão, apontaram que quase metade dos resultados positivos não apresentava sintomas na época.

Esses estudos usaram testes rápidos que procuram fragmentos do vírus ao esfregar um swab na garganta e nariz. Segundo especialistas, esses exames podem dar negativo um dia, se não houver muito vírus para ser detectado, e positivo no dia seguinte. Os sintomas também podem não aparecer quando alguém é testado, mas aparecem mais tarde. Um estudo japonês descobriu que mais da metade das pessoas que não apresentaram sintomas quando testaram positivo mais tarde se sentiram doentes.

Os testes mais confiáveis analisam o sangue em busca de anticorpos, substâncias que o sistema imunológico produz para combater o vírus. Mas a precisão deles também ainda precisa ser determinada. Eles precisam ser realizados “de maneira imparcial” em grupos de pessoas que representam as condições geográficas e sociais distintas, acredita Mina.

O CDC e outros grupos planejam estudos que possam orientar os conselhos de saúde pública sobre o retorno à vida normal em determinadas áreas. A ideia é que se as infecções são mais disseminadas do que se pensava anteriormente, é possível que mais pessoas tenham desenvolvido algum nível de imunidade ao vírus, trazendo a imunidade de rebanho.

Por outro lado, cientistas alertam que ainda há muito a aprender sobre a imunidade à doença, ou o quanto tempo ela pode durar. “Se todos eles já foram expostos ao vírus, talvez você possa relaxar as medidas de isolamento naquela região” explica Mina. “Mas ainda não estamos nem perto da eficácia nos testes que precisamos para fazer isso”, completa.

Via: Associated Press

Editor(a)

Renato Mota é editor(a) no Olhar Digital