Covid-19: Prêmios Nobel sugerem infectar voluntários propositalmente para testar vacinas

Procedimento conhecido como 'teste de desafio' consiste em introduzir uma cepa do vírus ativo nos participantes para atestar a eficácia de uma candidata a vacina
Davi Medeiros15/10/2020 17h31, atualizada em 15/10/2020 17h53

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Um grupo de 178 cientistas e acadêmicos endereçou uma carta ao secretário de saúde do Reino Unido, Matt Hancock, pedindo que o governo apoie a infecção proposital de voluntários para acelerar o desenvolvimento de uma vacina contra a Covid-19. Entre os signatários, estão quinze ganhadores do Prêmio Nobel.

Muito tem se falado sobre a importância da terceira e última etapa de testes para comprovar a eficácia dos imunizantes, o que pode levantar uma dúvida fundamental: de que modo os pesquisadores sabem se a substância realmente protege contra o vírus?

Simples. Eles solicitam aos voluntários que se exponham deliberadamente aos riscos de contaminação, e analisam se a vacina foi capaz de prevenir a infecção no “mundo real”.

É por isso que essa etapa geralmente é conduzida em países onde os níveis de disseminação da doença estão elevados, já que isso aumenta a probabilidade de contato com o vírus após a aplicação.

Reprodução

Voluntários da fase três de ensaios clínicos devem ficar expostos à contaminação de forma natural. Imagem: Cat Box/Shutterstock 

Teste de desafio

Os especialistas que assinaram a carta aberta argumentam que esse processo seria bem mais rápido se voluntários jovens e saudáveis fossem infectados propositalmente. Embora essa prática, conhecida como “teste de desafio”, seja considerada antiética, eles defendem que seus benefícios superariam os riscos.

“Se os testes de desafio acelerassem o desenvolvimento de uma vacina em pelo menos um dia, para não dizer vários meses, poderíamos salvar milhares e milhares de vidas da morte, de sequelas graves e da ruína financeira”, observou o signatário Nir Eyal, professor de bioética da Universidade Rutgers, em Nova Jersey.

O posicionamento dos cientistas é alinhado a um protocolo que a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou em maio, afirmando que infectar voluntários poderia ser uma alternativa em casos “extremos”, desde que eles fossem jovens, saudáveis e consentissem com a prática.

O problema, segundo a própria entidade, é que os testes de desafio carregam uma responsabilidade muito grande, já que introduzir o vírus ativo em voluntários pode levar a quadros severos da doença e até à morte.

Via: The Guardian

Colaboração para o Olhar Digital

Davi Medeiros é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital