Covid-19 avança de forma lenta no Brasil, mas subnotificação preocupa

Estudo feito por especialistas da PUC-RJ e da Fiocruz afirma que epidemia parece mais controlada no Brasil do que em países europeus, mas alerta que sua verdadeira extensão pode estar escondida
Renato Mota03/04/2020 21h05

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Uma análise feita pelo Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde (Nois), composto por especialistas da PUC-RJ e da Fiocruz, aponta que a epidemia de Covid-19 no Brasil “evolui de forma mais controlada” quando comparada com países como China, Coreia do Sul, Irã, Alemanha, Itália, Espanha, França e Estados Unidos.

Em sua quinta nota técnica, referente aos dados coletados até 31 de março, o grupo destaca que a progressão acelerada no início da pandemia do novo coronavírus “fez com que os governos municipais, estaduais e federal iniciassem medidas de contenção“, de maneira similar ao que se fez na China e em alguns países europeus, e que “caso estas ações sejam efetivas, a curva de casos acumulados por dia no Brasil, e nos estados que as adotaram, pode apresentar uma diminuição na taxa de crescimento”.

Porém, o relatório alerta que essa aparente diminuição do ritmo atual (em comparação com outros países) pode ser ilusória em razão da subnotificação de casos no País. “Um exemplo da influência destes fatores pode ser visto no dia 31 de março, onde o Brasil apresentou um aumento de 25% em comparação ao dia 30 de março, sendo que em São Paulo esse aumento foi de 54%”, afirma o documento assinado por 14 especialistas.

Em suas notas técnicas, o Nois faz projeções de curto prazo em três cenários: otimista, mediano e pessimista. “No caso de São Paulo, os valores realizados até 30/03/2020 se comportaram de forma similar ao cenário otimista. Contudo, há indícios de que houve subnotificação nos dias 29 e 30”, aponta o relatório. No dia 29 foram registrados 183 novos casos, e no dia 30 foram 45 novos casos – mas no dia 31, houve um salto para 948 novos casos. O estado ainda acumula mais de dez mil exames atrasados.

“Destaca-se ainda que, diferentemente dos outros países, o Brasil determinou que em alguns de seus estados não fossem mais reportados os casos menos graves da doença. Este fato, além da falta de testes e da demora para obter os resultados, pode interferir em uma visão mais precisa da evolução da epidemia no país”, alertam os especialistas.

Quando comparados aos números dos países europeus e dos EUA, a evolução da Covid-19 no Brasil apresentou uma taxa de duplicação (tempo em que se leva até que os números dobrem) mais lenta. “Principalmente a partir do 13º dia de epidemia, quando o país passou a ter uma taxa de duplicação da doença a cada 7 dias”, afirma o relatório.

Entre os 18º e 20º dias, o Brasil apresentou uma taxa de duplicação mais controlada – em média a cada 9,5 dias – enquanto países como a Itália e Alemanha apresentavam taxas de duplicação a cada 4 dias. “Isso pode ser um efeito das medidas de contenção que foram tomadas logo no início da pandemia em alguns estados brasileiros, tais como suspensão das atividades escolares, cancelamento de eventos e outros”, avaliam os especialistas.

O Nois, entretanto, reforça a preocupação com a dissipação da doença, “especialmente em direção à periferia das grandes cidades e das capitais para o interior”. O exemplo vem da Coreia do Sul, que no seu 19º dia apresentava uma taxa de duplicação da doença a cada 45 dias, “o que mostra que as medidas de controle no Brasil ainda não tenham surtido o efeito suficiente para o controle da doença”, completa o documento.

Via: Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde

Editor(a)

Renato Mota é editor(a) no Olhar Digital