Enquanto países asiáticos veem novos casos de coronavírus voltando a emergir, cresce o medo de uma nova onda da Covid-19. Em meio a esse cenário, especialistas enxergam o vírus como uma ameaça global que pode durar até dois anos.
Ainda que o coronavírus seja um problema por tanto tempo, cientistas alertam que a gravidade das novas ondas de contaminação em cada país dependerá das medidas de contenção tomadas agora.
No Brasil, por exemplo, a testagem em massa, que tem obtido êxito na desaceleração da disseminação do vírus nos demais países, ainda não foi viabilizada. Sem testes suficientes e sem isolamento, únicas alternativas que achataram a curva em países pandêmicos, o coronavírus não deve ser contido em breve.
“O momento não é de discutir se uma segunda onda virá porque isso é certo. A questão é como virá. Muito provavelmente o coronavírus causará ondas nos próximos dois anos. A questão será nossa capacidade de testar o maior número de pessoas, saber quantos são os infectados, isolar os casos”, explicou Domingos Alves, do Laboratório de Inteligência em Saúde (LIS) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP).
De acordo com uma projeção do grupo Covid-19 Brasil, que é integrado por diversas universidades brasileiras – incluindo a USP de Ribeirão Preto – e acertou todas as análises até agora, o Brasil tem cerca de 82 mil infectados em vez de 12 mil, como aponta o governo federal. Segundo Alves, a curva no país está mais íngreme do que a dos Estados Unidos. Ele prevê que, num cenário otimista, o pico brasileiro será atingido em maio. Caso contrário, tardará até novembro.
Outros especialistas, do mesmo grupo de pesquisa, destacam que o modelo seguido pelos países asiáticos pode ter funcionado lá, mas não se aplica completamente ao Brasil. “O nível de controle social, com total comando do governo sobre a vida dos cidadãos, a tecnologia e a capacidade de prover hospitais, profissionais e toda uma infraestrutura de contenção desses países está muito acima do que é possível fazer no Brasil. Temos que focar na testagem em massa e no isolamento social, as medidas que nos são possíveis e funcionam”, afirmou Clarissa Damaso, assessora do Comitê da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a pesquisa com o vírus da varíola, um dos mais prejudiciais à humanidade.
No entanto, o Brasil deve se inspirar na Alemanha, país que tem uma taxa de letalidade do vírus abaixo de 1%. Por lá, os testes foram iniciados precocemente, o que possibilitou que mais de 10% da população já tenha sido avaliada. Portanto, o número de infectados diagnosticados é muito próximo do real e abrange tanto os casos mais brandos quanto os casos mais graves. Além disso, a Alemanha possui um sistema de saúde pública bem estruturado e implantou as medidas de isolamento social com disciplina.
“No Brasil estamos indo mal em testes. Para saber o tamanho da onda atual e ainda projetar uma futura precisamos de testes, isso vai nos dizer quantos infectados temos. A China está com medo agora de uma segunda onda porque a China testou muito pouco na primeira. Os chineses não sabem quantos assintomáticos têm, quantos são os casos leves. Por isso, correm desesperados com medidas de controle e testagem extremas”, esclareceu Damaso.
A título de comparação, o Brasil testa 258 por milhão, enquanto a Alemanha testa 10.962 por milhão.
“Este não é um momento para relaxar nem pensar em segunda onda. É um momento para aumentar a severidade do isolamento social e focar em baixar a primeira onda, que ainda nem começamos a subir. É dessa escalada que teremos uma visão de novas ondas da pandemia”, completou Clarissa.
Via: O Globo