Cientistas lamentam uso de medicamento contra malária para a Covid-19

Pesquisadores contestam eficácia da hidroxicloroquina baseada em estudo francês feito com apenas 42 pacientes
Redação27/03/2020 14h00, atualizada em 27/03/2020 14h43

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Desde que a pandemia do novo coronavírus começou a se espalhar, pesquisadores de diversos países iniciaram a busca por medicamentos que conseguissem combater a doença.

Na última semana, quando Donald Trump tuitou sobre a eficácia de hidroxicloroquina e cloroquina poderia ser a resposta, muitos países e a Organização Mundial da Saúde apoiaram e concordaram com a afirmação, e começaram a utilizar o medicamento para o tratamento. Porém, muitos cientistas da área da saúde contestam a informação, principalmente por ser baseada em um estudo francês que testou apenas 42 pacientes.

Algumas das alegações também incluem a “loucura” do uso do remédio, após testes inconsistentes, como afirmou Gaetan Burgio, especialista em resistência a medicamentos da Universidade Nacional Australiana. “A melhor maneira de saber se um medicamento para a Covid-19 é eficaz é através de um ensaio clínico de alta qualidade”, destacou Joshua Sharfstein, vice-reitor da Escola de Saúde Pública da Universidade Johns Hopkins, se referindo ao estudo que a OMS acaba de iniciar. “Os esforços para distribuir amplamente tratamentos não comprovados são equivocados na melhor das hipóteses e perigosos na pior”, acrescentou.

Demanda por hidroxicloroquina

Desde que o nome do medicamento começou a aparecer na mídia, a demanda pelo remédio, usado normalmente para o tratamento de malária, lúpus e artrite reumatoide e outras doenças, cresceu vertiginosamente, o que gerou consequências indesejadas. Além da escassez do produto, a Índia, um dos grandes produtores, proibiu as exportações, óbitos por conta da automedicação com hidroxicloroquina ou cloroquina foram registradas. No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro ordenou que os laboratórios militares aumentassem a produção do medicamento.

Embora seguros em doses controladas, os medicamentos têm sido associados a efeitos colaterais problemáticos, como comportamento suicida e problemas cardíacos graves. Além disso, muito cientistas alertaram para erros de procedimentos durante o estudo francês, que não escolhei os participantes aleatoriamente.

Portanto, é esperado que estudos mais completos, como o realizado pela OMS e o que está prestes a se iniciar no Brasil, possam dar um veredito mais claro sobre o uso dos medicamentos. Apesar disso, diversos laboratórios já anunciaram um aumento na produção de cloroquina e de hidroxicloroquina. Além disso, é importante ressaltar que a automedicação não é recomendada por profissionais da saúde, principalmente durante uma pandemia como a do novo coronavírus.

Via: Science Mag

Colaboração para o Olhar Digital

Redação é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital