Funcionários do armazém da Amazon em Shakopee, Minnesota (EUA), demonstraram profunda desconfiança com seus superiores e a empresa. Isso porque, no armazém, 88 pessoas foram diagnosticadas com o novo coronavírus. No entanto, segundo os empregados, a companhia não informou o número real de infectados.
O mesmo aconteceu no armazém de Minneapolis. De acordo com o site Digital Trends, os gerentes negaram que qualquer funcionário estivesse doente até o momento em que foram confrontados com dezenas de casos – podendo inclusive superar as 88 ocorências mencionadas primeiramente pelo jornal Star Tribune.
“Desde o começo, eles tentaram minimizar e esconder sua extensão dentro do armazém”, disse William Stoltz, de 25 anos, que trabalha na instalação de Shakopee há três anos. “Percebo que a segurança do trabalhador não é a principal preocupação”.
Mensagens vagas e inconsistentes
Além de Stoltz, Tyler Hamilton, de 23 anos, e também funcionário do centro de atendimento MSP-1 da Amazon há três anos, disse que a principal forma de comunicação da empresa sobre o vírus era por meio de vagas mensagens de texto.
As mensagens confirmariam a ocorrência de casos de Covid-19 no depósito e afirmavam que ele seria higienizado, mas não continham outras informações úteis. Ao longo de junho, outras mensagens da Amazon apenas diziam que “casos adicionais” foram confirmados.
“Eles estavam em negação absoluta de que algo estava errado”, lamentou Hamilton. “Achei que talvez tivéssemos 30 ou 40 casos, mas 88! Isso é chocantemente alto”.
Mensagem de texto recebida pelos funcionários da Amazon. Imagem: Reprodução
No início da pandemia, Habiq Mohamed, imigrante somali que trabalha na empresa há quatro anos, alegou que a administração estava mentindo sobre a quantidade de casos. “Perguntei a eles quantas pessoas estavam doentes e disseram: ‘ah, não sabemos.’ A Amazon não está levando nossa saúde e segurança a sério”. Isso gerou uma profunda desconfiança entre os trabalhadores e a gerência, que ele acusa de reter informações.
Hamiltou concorda com Mohamed sobre a falta de confiança dos funcionários na gerência. “Honestamente, a culpa é da administração. E muito disso é culpa da empresa”, contou ele. “Desde que estive lá, parece que a cada poucas semanas ou meses, algo acontece e eles atiram no próprio pé”.
A desinformação chegou até os momentos de descanso dos funcionários, segundo Hamilton. “Eles literalmente tinham TVs colocadas nas áreas comuns dos armazéns que tinham uma gravação do gerente geral tocando em um loop e dizendo ‘não há casos de Covid aqui’ e ‘as pessoas fazem pânico’ e ‘por que eles semeiam medo em um momento como esse’. E assim que tiveram o primeiro caso, eles mandaram uma mensagem e desligaram todas as TVs”, contou ele.
Precauções e punições
Em uma série de publicações no blog nos últimos meses, a Amazon revelou novos requisitos e benefícios de segurança para os trabalhadores. Isso incluía o uso de máscaras, duas semanas de folga remunerada para as pessoas com coronavírus e contratar mais funcionários para lidar com o aumento da demanda, tudo em nome da manutenção da segurança dos empregados e do fornecimento de suprimentos essenciais aos clientes, segundo a empresa.
Quando questionada sobre as alegações dos funcionários, a Amazon negou. “Essas alegações simplesmente não são verdadeiras”, escreveu Timothy Carter, porta-voz da Amazon. “Utilizamos uma variedade de dados para monitorar de perto a segurança de nossos edifícios e há fortes evidências de que nossos funcionários não estão proliferando o vírus no trabalho”.
Segundo Stoltz, o depósito de Shokapee tomou algumas medidas certas: distribuição de máscaras, medição de temperatura na porta, incentivo ao distanciamento social mudando algumas áreas de descanso. Porém, tirar a folga remunerada envolvia muita burocracia e os suprimentos essenciais são basicamente os mesmos enviados sempre.
Além das precauções, novas punições por violar as diretrizes de segurança foram adotadas. Em vez do sistema habitual com três advertências, no qual havia três chances antes de ser demitido, a Amazon mudou para apenas uma advertência para quem não cumprir o distanciamento social de dois metros – algo muito difícil de se fazer, ainda mais com os novos contratados.
Depósito da Amazon em Shakopee, Minnesota. Imagem: Kerem Yucel/AFP
Por um longo tempo após o início do surto, as pessoas ainda trabalhavam lado a lado na empresa, segundo Mohamed. Além disso, Stoltz e Hamilton afirmam que a Amazon não exigia máscaras até o fim de abril, momento no qual a doença já havia se espalhado pelo país.
Quanto à limpeza, os funcionários afirmam que ela está realmente sendo feita. Contudo, às vezes os trabalhadores precisam permanecer na linha mesmo durante a pulverização de produtos químicos. “Eles limpam bem em cima de nós”, disse Mohamed. “A primeira vez que eles limparam, eles nos expulsaram do armazém mais cedo e, depois disso, decidiram continuar limpando enquanto estávamos trabalhando”.
A escolha agora para os funcionários em Shakopee (e em todo o mundo) é ir trabalhar e correr o risco de ficar doente ou ficar em casa sem receber salário. A esperança é que a Amazon decida alterar sua política e priorizar a saúde dos trabalhadores.
Via: Digital Trends