Fabricante da vacina russa quer publicar seus resultados preliminares

Enquanto outros laboratórios seguem com testes, os criadores da Sputnik V podem passar à frente ao compartilhar resultados com base nas primeiras seis semanas de monitoramento
Renato Mota12/04/2022 01h01

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Publieditorial

O diretor do Instituto Gamaleya, que está produzindo a vacina russa Sputnik V contra a Covid-19, afirmou que planeja compartilhar os resultados preliminares de seu ensaio com base nas primeiras seis semanas de monitoramento dos participantes. Para Alexander Gintsburg, a pressa é justificada pelas atuais condições de “tempo de guerra” da pandemia.

Em entrevista à Reuters, Gintsburg garantiu, porém, que nenhuma etapa no desenvolvimento da vacina será cortada. A velocidade com que a Sputnik V vem sendo desenvolvida e testada levanta preocupações entre pesquisadores de outros países, que avaliam que a Rússia está priorizando o prestígio nacional em detrimento da ciência e segurança.

“As pessoas estão morrendo como durante uma guerra”, disse Gintsburg. “Mas esse ritmo acelerado não é sinônimo, como alguns meios de comunicação sugeriram, de atalhos sendo tomados. De jeito nenhum”, afirmou o chefe do Instituto Gamaleya, afirmando que sua equipe tem um prazo apertado para produzir uma vacina, mas que todas as diretrizes para testar a segurança e eficácia da Sputnik V foram seguidas.

Se o cronograma do Gamaleya for seguido e os resultados provisórios com base nos primeiros 42 dias de monitoramento de voluntários publicado, a Rússia poderá se tornar o primeiro país no mundo a anunciar dados de um teste de Fase III. O início dos ensaios se deu em 9 de setembro, o que significa que os resultados provisórios podem ser divulgados depois de 21 de outubro.

Instituto Gamaleya/Divulgação

Pesquisadora do Centro Nacional Gamaleya que desenvolve a vacina Sputnik V. Imagem: Instituto Gamaleya/Divulgação

Outros laboratórios começaram seus testes de estágio final antes e já passaram de 42 dias, mas não publicaram nenhum resultado. As farmacêuticas disseram que esperariam até que tivessem infecções suficientes para obter uma leitura confiável dos dados antes da publicação.

O próprio Gintsburg avalia que 42 dias é um prazo curto, mas afirma que há um grande interesse público nos resultados provisórios. “Para mim, por exemplo, é muito curto. Mas para pessoas que estão interessadas em como as coisas estão indo, já é muito longo”, afirmou à Reuters. Nenhum efeito colateral sério foi relatado durante a Fase III até agora, e efeitos colaterais menores ocorreram em apenas 15% dos testados.

Os voluntários ainda serão monitorados por 180 dias depois que o último dos 40 mil participantes for vacinado, e os resultados finais só devem ser publicados em alguma revista científica internacional depois de seis meses. Os resultados dos ensaios em estágio inicial foram revisados ​​por pares e publicados no The Lancet.

Independente da publicação, a Rússia começou a inocular pessoas de grupos de alto risco em 8 de setembro. Cerca de 400 delas foram vacinadas até agora, de acordo com o Ministério da Saúde, e passaram por um exame médico menos rigoroso do que os voluntários do ensaio. “A escolha era entre dar às pessoas a oportunidade de se protegerem ou deixá-las jogar ‘roleta russa’ com essa infecção mortal”, afirma Gintsburg.

Via: Reuters