Experimento russo de 1959 pode ser útil contra a Covid-19; entenda

Virologistas russos sugerem que vírus da poliomielite seja usado para desacelerar a pandemia atual; método é inspirado em experimento precursor da vacina oral contra paralisia infantil
Davi Medeiros11/08/2020 13h50, atualizada em 11/08/2020 14h15

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Enquanto o mundo inteiro trabalha no desenvolvimento de imunizantes contra o novo coronavírus, um grupo de cientistas russos sugere que um antigo experimento seja recuperado para combater o patógeno.

Eles são Peter, Konstantin e Ilia Chumakov, filhos dos célebres virologistas Mikhail Chumakov e Marina Voroshilova. Em 1959, quando a Rússia ainda fazia parte da União Soviética, seus pais pediram que eles formassem fila para receber cubos de açúcar, como contou o The New York Times. 

Não se tratava de uma simples guloseima. Na verdade, Mikhail e Marina haviam misturado fragmentos enfraquecidos do vírus da poliomielite ao açúcar, e estavam testando nos próprios filhos o que futuramente viria a se tornar a vacina oral contra a doença — embora o casal não tenha sido responsável pela versão definitiva do imunizante.

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Mikhail Chumakov, Marina Voroshilova e seus filhos, Peter, Konstantin e Ilia (da esq. à dir.). Imagem: Reprodução/Peter Chumakov

O experimento foi bem sucedido contra a poliomielite, e ainda teve êxito num aspecto inesperado. Por cerca de um mês, as crianças ficaram imunes não apenas ao poliovírus, mas a diversas outras infecções virais. A partir de então, a doutora Marina Voroshilova passou a ministrar doses da “vacina” aos filhos uma vez por ano para prevenir a gripe.

As crianças cresceram e se tornaram virologistas assim como seus pais. O que eles sugerem agora é que, enquanto uma vacina específica contra o coronavírus não é aprovada, o método de Mikhail e Marina seja utilizado como uma alternativa para prevenir a doença.

Prós e contras do método

A ideia, contudo, não foi bem recebida pela comunidade científica. Ao The New York Times, o Dr. Paul A. Offit, professor de medicina da Universidade de Pennsylvania, afirmou que os benefícios dessa técnica seriam “incompletos e muito curtos”. “Uma vacina que induza imunização específica é muito melhor”, disse.

Os defensores do método não negam a eficiência de um imunizante próprio contra a Covid-19, mas sugerem a utilização do poliovírus como uma forma de “ganhar tempo”. O Dr. Robert Gallo, professor da Universidade de Maryland e um dos apoiadores do procedimento, disse ao jornal que, mesmo que a imunidade não durasse muito tempo, “já ajudaria a poupar milhares de vidas”.

Entretanto, existe um argumento incontestável contra o uso em massa do poliovírus para desacelerar a pandemia atual. Por ser ministrada com o patógeno enfraquecido, e não morto, a vacina contra poliomielite pode levar os pacientes a desenvolverem casos graves de paralisia. É muito raro — estima-se que aconteça uma vez a cada 2,7 milhões de doses — mas esse é o motivo pelo qual as organizações de saúde pública recomendam que a vacinação seja interrompida após a diminuição de casos da doença.

De qualquer forma, uma vacina exclusiva contra a Covid-19 parece estar muito próxima. A Rússia, inclusive, já registrou oficialmente seu imunizante e declarou que ele está pronto para uso. No Brasil, é esperado que a vacinação em massa aconteça de forma gratuita já no início de 2021.

Via: New York Times

Colaboração para o Olhar Digital

Davi Medeiros é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital