Estudos na França e na China apontam ineficácia da hidroxicloroquina contra Covid-19

Pesquisas se juntam a várias outras publicadas no mundo indicando que o remédio não é capaz de combater o coronavírus
Renato Santino15/05/2020 21h53, atualizada em 15/05/2020 22h05

20200515070644-1920x1080

Compartilhe esta matéria

Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

Nesta semana, mais dois estudos publicados na revista científica British Medical Journal apontaram a ineficácia da hidroxicloroquina, medicamento usado no tratamento de doenças como malária e lúpus, no combate à Covid-19. Ambos foram publicados quase simultaneamente: um deles desenvolvido por pesquisadores franceses, e o outro por cientistas chineses.

No estudo francês, os pesquisadores tentaram acompanhar a evolução de pacientes que receberam a droga combinada com um tratamento padrão em comparação com outro grupo, que recebeu apenas o tratamento padrão, sem hidroxicloroquina.

Para isso, o estudo observacional analisou 181 pacientes. Eles foram divididos entre 84 que receberam a hidroxicloroquina nas primeiras 48 horas de internação e 97 que não receberam e serviram como grupo de controle. Durante o período de internação, os pesquisadores não perceberam nenhuma diferença significativa no número de pacientes que precisaram de transferência para UTI, que morreram após 7 dias, ou que desenvolveram Síndrome Respiratória Aguda Grave em 10 dias.

Os pesquisadores ressaltam que se trata de um estudo observacional e que é necessária cautela na hora de analisar os resultados, já que não se trata do que está sendo chamado de “padrão-ouro” dos testes clínicos (amostragem pequena e experimento não-randomizado). No entanto, os experimentos apontam a ineficácia do medicamento.

Enquanto isso, na pesquisa da China, o foco foi outro. Eles visaram entender principalmente o impacto da hidroxicloroquina em pacientes com sintomas leves e moderados da Covid-19. Foram 150 adultos divididos aleatoriamente em dois grupos: os que receberam a hidroxicloroquina e tratamento padrão e os que receberam só o tratamento padrão. O estudo é classificado como “open label”, o que significa que os pacientes sabem a qual grupo pertencem, possibilitando a criação de vieses no processo. Por isso, ele também não se enquadra no “padrão-ouro”.

Os pacientes do grupo da hidroxicloroquina receberam uma dosagem admitidamente alta do medicamento: 1.200 miligramas diários pelos três primeiros dias, seguidos de 800 mg ao dia pelo restante do tratamento.

Ao fim do dia 28 de testes, os pesquisadores não perceberam diferenças significativas entre os dois grupos. Entre os 150 pacientes, a maioria estavam curados do vírus muito antes do prazo. Foram 109 conversões negativas, sendo 56 do grupo padrão e 53 do grupo com hidroxicloroquina, e os 41 restantes não conseguiram a conversão antes do prazo e foram censurados.

Os pesquisadores também observaram um aumento no número de eventos adversos no grupo que usou a hidroxicloroquina. Enquanto no grupo de controle houve eventos adversos em 9% dos casos, essa proporção subiu para 30% entre os que receberam o medicamento, com dois pacientes enfrentando efeitos mais graves. Os pesquisadores dizem que eventos similares também foram observados em outros estudos que envolveram altas dosagens da droga.

Novamente, os pesquisadores apontaram que o estudo não encontrou evidências de que a hidroxicloroquina seja eficaz contra o coronavírus, mas ressaltam que mais estudos devem ser realizados sobre o tema para respostas mais conclusivas.

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital