Estudo brasileiro utiliza células-tronco para tratar a Covid-19

Pesquisa utiliza células extraídas de cordões umbilicais
Luiz Nogueira23/06/2020 12h30

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Recentemente, um novo estudo no tratamento contra a Covid-19 foi iniciado no Brasil. A pesquisa utiliza células-tronco para tratar os pacientes infectados pela doença. A iniciativa é resultado de uma parceria entre a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), o Complexo Hospital de Clínicas da Universidade do Paraná (CHC-UFPR) e do Instituto Carlos Chagas da Fundação Instituto Oswaldo Cruz (ICC/ Fiocruz Paraná).

Em entrevista à Agência Brasil, Paulo Brofman, coordenador do Núcleo de Tecnologia Celular da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), disse que a doença pode se manifestar de formas diferentes nos pacientes. É de conhecimento da ciência que, dependendo do caso, o indivíduo infectado pode apresentar sintomas leves ou até necessitar de entubação por conta de complicações respiratórias.

“Um grande problema desses pacientes que evoluem de maneira mais grave é que ocorre uma alteração que a gente chama de ‘tempestade de citocinas’ e leva a uma inflamação respiratória muito grande que vai ocupar boa parte da estrutura pulmonar, fazendo com que a área de troca do CO2 pelo oxigênio diminua muito”, explica Brofman.

Para a realização do estudo, estão sendo utilizadas células-tronco do tipo mesenquimal, que são derivadas do tecido encontrado em cordões umbilicais. A utilização desse material é bastante comum no Núcleo de Tecnologia Celular da PUCPR.

A ideia da pesquisa, segundo Brofman, é de fazer com que o tratamento impeça que “as células que podem ir ao pulmão e complicar a situação dele, não façam esse caminho”. Ele ainda diz que, para isso, as células-tronco mesenquimais se mostraram “próprias, porque têm uma importante ação anti-inflamatória. Isso vai fazer com que a carga viral de citocinas que estão produzindo essa reação inflamatória diminua de maneira significativa”.

Estudo inicial

Reprodução

Pesquisa utiliza células-tronco extraídas de cordões umbilicais. Foto: selimaksan

A ideia principal do estudo, pelo menos na primeira fase, é de envolver 15 pacientes. Na última segunda-feira (22), os pesquisadores incluíram o quarto voluntário. Em um período de até duas semanas, a expectativa é de que todos estejam participando dos testes. Todos eles já se encontram internados na UTI do Hospital das Clínicas da UFPR.

Segundo Brofman, a pesquisa isola as células derivadas de um cordão umbilical, as expande e, após testes de qualidade, as injeta nos participantes do estudo por via endovenosa. Cada paciente recebe, cerca de “1,5 milhão de células por quilo de peso”. Essa aplicação é feita em intervalos de 24 horas, sendo dividida em três dias, juntamente do tratamento convencional.

Com isso, o objetivo dos pesquisadores é de que essas células se desloquem até o pulmão, onde vão exercer a função de imunomoduladoras e anti-inflamatórias. “Temos a esperança de que isso possa diminuir muito essa reação inflamatória, encurtando o tempo de intubação e do uso do respirador, e impedindo que a lesão que fica instalada no pulmão, após a agressão por essas citocinas inflamatórias, deixe cicatriz muito grande”, explica Brofman.

A preparação do estudo é feita em locais diferentes. Enquanto as células-tronco mesenquimais são produzidas na PUCPR, a Fiocruz Paraná mensura as citocinas inflamatórias. A partir do esforço conjunto, espera-se que os primeiros resultados dos testes com os 15 pacientes sejam divulgados até o fim de julho.

Segunda etapa

O que os pesquisadores esperam agora é a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a liberação de financiamento do Ministério da Saúde e do conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) para realizar uma segunda etapa de pesquisa, desta vez multicêntrica, com pacientes do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Bahia e Paraná. A ideia é realizar testes em 60 pessoas no total.

No entanto, Brofman afirma que, mesmo com a aprovação para início da fase com os novos pacientes, pode ser que o tratamento não seja estendido como uma opção viável para cura da Covid-19, pelo menos por enquanto.

Isso porque, “temos milhares de pacientes com a Covid-19 e não vamos ter, provavelmente, células para essa quantidade enorme de pacientes internados em UTIs”. Apesar disso, o pesquisador afirma que há a possibilidade de produzir uma quantidade maior das células utilizadas, que podem ser aplicadas nos pacientes mais graves.

Mesmo assim, ele acredita que os resultados podem trazer conhecimento para que medicamentos baseados nos princípios da célula mesenquimal possam ser utilizados no tratamento da doença.

Via: Agência Brasil

Luiz Nogueira
Editor(a)

Luiz Nogueira é editor(a) no Olhar Digital