Entenda como vai funcionar o sistema contra Covid-19 de Apple e Google

Com o uso de antenas Bluetooth dos celulares, empresas esperam dar aos usuários de Android e iOS a oportunidade de detectar uma infecção precoce
Renato Santino22/05/2020 01h19, atualizada em 22/05/2020 09h00

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Nesta semana, finalmente Apple e Google lançaram um sistema desenvolvido para informar aos usuários de Android e iOS se eles estiveram em contato próximo com alguém contaminado com o coronavírus.

Por meio do Bluetooth dos smartphones, será possível gerar uma espécie de “catálogo anônimo” de pessoas que se aproximaram de você ao longo de um determinado dia e, se uma delas for diagnosticada com Covid-19, seu celular pode receber uma notificação. A partir daí, é possível se autoisolar ou buscar algum teste para obter um diagnóstico precoce.

Mas como isso vai funcionar? É o que vamos entender a seguir:

Primeiro: não é um aplicativo dessas empresas

Apple e Google deixam muito claro que essa tecnologia lançada por eles não é um aplicativo que você instala no seu celular. Trata-se de uma plataforma, uma API disponibilizada aos desenvolvedores, que permite que apps se comuniquem de uma nova forma com o sistema operacional e o hardware dos aparelhos.

A partir dessa nova possibilidade, ficará a cargo de governos e agências de saúde desenvolverem os aplicativos que usarão a tecnologia. Eles também deverão promover o app para que ele seja instalado pelo maior número possível de pessoas para que possa ter alguma eficácia. Até o momento, já estão confirmados 22 países em 5 continentes que estão em comunicação ativa com as empresas.

Também vale a pena notar que nada impede que desenvolvedores independentes criem seus próprios aplicativos, mas as empresas só fornecem acesso a essa ferramenta a instituições convidadas. Também não há nada que impeça que governos desenvolvam aplicativos similares sem usar a plataforma de Apple e Google, mas a tendência é que o app seja menos integrado ao sistema operacional, podendo torná-lo menos eficiente.

Quem vai ter acesso?

A maioria dos celulares em uso atualmente. A Apple disponibilizou o recurso como uma atualização recente do iOS 13, então qualquer iPhone compatível com o sistema poderá utilizar a ferramenta. Isso vale para qualquer modelo lançado desde 2015, quando a empresa trouxe ao mercado o iPhone 6s.

Já para o Android, onde atualizações de sistema operacional costumam ser mais complicadas, o Google implementou o recurso por meio de um update via Google Play. Todos os aparelhos rodando o Android 6.0 (Marshmallow) ou superior devem suportar a ferramenta, desde que tenham acesso aos serviços do Google Play, o que afeta os dispositivos, por exemplo, da Huawei, que tem lançado seus celulares sem intervenção do Google.

O Bluetooth como arma

Abra agora as configurações de Bluetooth do seu celular. Se você mora em um prédio, é possível que haja dezenas de aparelhos detectados pelo smartphone, entre dispositivos de vizinhos e os que estão na sua própria casa. Com isso, não é difícil deduzir que os donos desses aparelhos estão perto de você, ainda que talvez vocês não tenham contato direto.

Com um aplicativo que utilize essas ferramentas de Apple e Google, você poderia ter um registro anônimo de outras pessoas que estiveram perto de você ao longo de determinado dia. Quando dois usuários do aplicativo se aproximam, mesmo que sejam totalmente desconhecidos, seus celulares se comunicam e se registram mutuamente de forma criptografada e anônima. Cada aparelho tem suas próprias chaves secretas e alteradas frequentemente, e essa informação fica guardada nos smartphones que se comunicam.

Quando alguma das pessoas armazenadas no seu catálogo tem um diagnóstico confirmado de Covid-19, seu celular apresenta uma notificação. Pelo fato de os dados serem anônimos e não associados a dados de GPS, não há como saber a identidade da outra pessoa, nem exatamente onde aconteceu o encontro.

Apple e Google ainda refinaram sua tecnologia para que seja possível, pela força de sinal do Bluetooth e tempo de exposição, detectar o nível de risco de contágio. Se o sinal era fraco e foi captado brevemente, é um indicativo de que a pessoa contaminada estava longe do usuário e que o contato foi mínimo. Da mesma forma, se um contato é forte e constante, é sinal de que as duas pessoas estão compartilhando um mesmo ambiente, como um escritório, aumentando o risco. Sinais fracos e constantes podem representar um vizinho afastado. Isso pode ser útil para autoridades de saúde determinarem os reais riscos de contágio.

Como acontece a notificação?

Reprodução

Apple e Google batem na tecla de que tudo em seu sistema é voluntário. Isso significa que, para que o sistema funcione, os usuários precisam fornecer as informações necessárias por conta própria.

Assim, fica a cargo da pessoa diagnosticada por Covid-19 entrar no sistema e informar que está contaminada. Assim, todas as pessoas que estão em seu catálogo anônimo e que tenham se aproximado dentro de um período razoável, serão notificadas pelo sistema.

Para garantir que não haja um abuso da ferramenta, não serão aceitas notificações de contágio que não estejam acompanhadas de um diagnóstico formal de Covid-19. Isso visa evitar que pessoas mal intencionadas entupam a plataforma com informações falsas, gerando pânico desnecessário e, essencialmente, tornando-a inútil.

As restrições impostas por Apple e Google

Tanto Apple quanto Google deixam claro que não permitirão a associação de sua plataforma à coleta de dados de GPS. Se algum governo quiser usar essa ferramenta em seus apps, não terão permissão a coletar dados de geolocalização dos celulares, impedindo o rastreamento físico dos usuários.

As duas empresas também insistem que o catálogo de contatos anônimos se mantenha gravado exclusivamente nos celulares, sem que uma agência central tenha acesso à informação de quem contatou quem. Também está vetado o uso de publicidade direcionada aos usuários como forma de monetizar o aplicativo.

As empresas fornecerão acesso à ferramenta a apenas um aplicativo por país, para evitar a fragmentação dos usuários entre múltiplos apps que podem ser incapazes de se comunicar, tornando o sistema inútil. No entanto, elas abrem a porta para que, caso o combate à doença seja conduzido na esfera estadual, há a possibilidade de abrir a ferramenta para os estados. Novamente, apenas um aplicativo por estado.

Por fim, as companhias também se comprometeram a fazer desse sistema temporário. A ideia é que, assim que a pandemia estiver sob controle, o projeto será desativado, para que não haja a oportunidade de alguma organização utilizar esse acesso de forma indevida.

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital