O autoisolamento imposto pela pandemia do coronavírus para milhões de pessoas está longe de ser um período improdutivo. Além de filmes, séries e podcasts para consumir, games para jogar, museus e até catacumbas para visitar, você pode emprestar seu tempo livre para ajudar a ciência em campos como a astronomia e a zoologia.
“Acho que podemos aproveitar o entusiasmo das pessoas. Isso meio que captura o espírito do tempo do coronavírus: o que podemos fazer quando estamos presos em casa”, acredita Heather Lynch, ecologista Stony Brook University em Nova York, afiliada a ao projeto Penguin Watch, que conta com a ajuda de cidadãos para identificar os pinguins em imagens de satélite feitas perto das suas colônias na Antártida.
A forma com que os pesquisadores identificam a atividade das aves em uma região pode ser um pouco convencional para o usuário comum. Os biólogos encontram os pássaros vasculhando imagens de satélite em busca de faixas de seu cocô, que os cientistas chamam de guano. “Assim, podemos mapear quanta área está coberta por guano, e isso nos dá uma estimativa muito boa de quantos pinguins habitam a colônia naquele local específico”, explica Lynch.
São esses dados valiosos que ajudam os pesquisadores a acompanhar de perto a população de pinguins na natureza. “Embora sejam a fauna mais carismática e talvez a mais óbvia a ser pesquisada na Antártida, até recentemente sabíamos relativamente pouco sobre quantos pinguins havia na região e como estão distribuídos, porque a pesquisa lá é muito difícil”, afirma a ecologista.
Os satélites permitem que os pesquisadores coletem dados da região sem necessariamente ter que enfrentar os rigores do clima no extremo sul do planeta. Satélites comerciais oferecem dados bastante detalhados, como o programa Landsat da Nasa que possui dados de 40 anos sobre as atividades dos pinguins, e o Google Earth, que obtém dados de satélite acessíveis ao público que os cientistas cidadãos podem vasculhar.
O Penguin Watch fornece aos formuladores de políticas antárticas dados mais abrangentes sobre as populações de pinguins. Mas os cientistas precisam de ajuda para localizar todos esses pássaros e, para isso, recrutam os usuários. “A maneira como encontramos colônias de pinguins é em geral através da pesquisa manual de imagens: imagem após imagem, pé a pé, examinando a costa em busca de evidências de guano de pinguim”, conta a pesquisadora.
DE OLHO NAS ESTRELAS
Mas se você prefere olhar para o céu do que para o chão, algumas galáxias de aparência estranha estão te esperando no projeto Galaxy Zoo.
Há mais de uma década o programa recruta voluntários para classificar as formas das galáxias. “Você nem precisa saber o que é uma galáxia”, conta Chris Lintott, astrofísico da Universidade de Oxford.
“A forma de uma galáxia fala sobre sua história: ela conta quando acumulou material, quando colidiu com outras galáxias, quando formou estrelas e muitas outras informações”, explica Lintott. “Mas astrônomos são muito bons em obter imagens de galáxias, e não tão bons em classificar os dados”, completa.
No Galaxy Zoo, pós uma breve sessão de treinamento, os voluntários são liberados para receber as imagens dos cientistas e começar o trabalho. “Não precisamos que as pessoas passem horas contemplando um sistema específico – a menos que queiram. Precisamos apenas de um palpite, e você já pode partir para outra galáxia”, afirma Lintott. “Muitas pessoas descrevem o trabalho como comer um pacote de batatas fritas: cocê pega um, pega outro, pega outro, e pode navegar pelo universo dessa maneira”.
Um algoritmo faz o grosso do trabalho de classificar a maior parte das galáxias. O sistema cuida das galáxias mais fáceis e manda as mais estranhas para os voluntários. As identificações feitas pelos usuários recentemente permitiram que os cientistas determinassem que os buracos negros no centro das galáxias crescem constantemente, e não através de colisões das estruturas ao seu redor.
““Ter seres humanos envolvidos no processo é valioso”, avalia Lintott. “Encontramos novos tipos de galáxias e novos tipos de coisas no céu, porque alguém que estava participando do projeto fez uma coisa muito humana e apenas disse: ‘Isso é incomum. Não sei o que é isso'”. Como o programa extrai dados automaticamente dos observatórios, sempre há algo novo para ver. “Você pode ser a primeira pessoa a ver aquela galáxia”, disse Lintott. “Apenas acessando o site, você pode literalmente ver algo que ninguém nunca viu antes”.
Via: Space.com