Satélites da Starlink podem prejudicar observações astronômicas

Com mais de 400 satélites no ar - e uma autorização para colocar 42 mil deles em órbita - a SpaceX pode acabar dificultando o trabalho de observatórios e pesquisadores
Renato Mota07/05/2020 18h07

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Quando a SpaceX montou seu projeto Starlink, para colocar uma constelação com milhares de satélites em órbita da Terra, não avaliou corretamente o impacto que isso teria na observação do céu noturno. Agora, com 422 satélites no ar, e outros tantos ainda a serem lançados, cientistas e a própria empresa buscam soluções que reduzam prejuízo causado nas pesquisas astronômicas.

O problema é de poluição visual: cada satélite reflete a luz do Sol, tornando-os brilhantes o suficiente para interferirem no céu noturno. Imagine então 42 mil deles, como é o plano da SpaceX. “Seria uma mudança fundamental em nossa experiência humana à noite”, avalia o astrônomo Tyler Nordgren, em entrevista ao New York Times.

Há um esforço para escurecer os satélites desde o início de janeiro. De acordo com o CEO da SpaceX, Elon Musk, o ângulo dos painéis solares dos satélites foi mudado, aproximando-os da Terra para que reflitam menos luz. A empresa também fará a instalação de uma proteção em todos os dispositivos a partir do nono lançamento da missão. Esses materiais serão confeccionados com base em uma espuma escura especial extremamente transparente para ondas de radiação.

Para Patrick Seitzer, professor de astronomia emérito da Universidade de Michigan, as mudanças tornarão os satélites invisíveis a olho nu. Isso já é grande alívio para os astrônomos e defensores do céu noturno, que inicialmente se preocupavam com o fato de as luzes em movimento dos objetos dificultarem a detecção de constelações.

Mas os temores dos pesquisadores vão além, e dizem respeito também ao futuro da pesquisa astronômica avançada. Não se sabe ao certo, por exemplo, se o Starlink irá interferir na visão de observatórios como o Vera C. Rubin, um telescópio norte-americano instalado no Chile que varrerá o céu inteiro a cada três noites a partir de 2023. Essas informações serão enviadas a todos os principais observatórios terrestres e espaciais, para que possam acompanhar as descobertas o mais rápido possível.

Um satélite brilhante o suficiente no céu pode criar impressões fantasmas ou causar outros efeitos no detector do telescópio. Para contornar esses problemas, pesquisadores do observatório Rubin e da Universidade da Califórnia criaram um extenso algoritmo que “limpa” as imagens, mas ele só funciona para satélites fracamente iluminados.

Via: The New York Times

Editor(a)

Renato Mota é editor(a) no Olhar Digital