Titã, uma das 82 luas de Saturno, é um dos lugares mais interessantes do Sistema Solar. Maior do que Mercúrio, o satélite natural possui uma atmosfera espessa (única lua a ter uma) e é coberto de rios e mares de hidrocarbonetos líquidos, como metano e etano. Abaixo, uma espessa crosta de gelo d’água que cobre um oceano de água líquida – um potencial hóspede para a vida.

Analisando dados coletados pela sonda Cassini, da Nasa, pesquisadores do Laboratório de Propulsão a Jato (JPL) descobriram mais um detalhe de Titã: a lua está se afastando de Saturno numa velocidade 100 vezes maior do que se acreditava, a cerca de 10 cm por ano.

Luas se afastam de seus planetas hospedeiros. A nossa, por exemplo, fica 3,8 cm mais longe da Terra a cada ano. Esse dado ajuda astrônomos a entender como e quando as luas se formam ao redor de alguns planetas. A pesquisa, publicada na Nature Astronomy, sugere que Titã nasceu muito mais perto de Saturno e migrou para sua distância atual de 1,2 milhão de quilômetros ao longo de 4,5 bilhões de anos.

Essas seis imagens infravermelhas da lua de Saturno representam algumas das mais nítidas e mais perfeitas imagens da superfície de Titã produzidas pela Cassini. Imagem: Nasa/JPL-Caltech/Stéphane Le Mouélic, University of Nantes, Virginia Pasek, University of Arizona

“Este resultado traz uma nova e importante peça ao quebra-cabeça da formação do sistema de Saturno e suas luas”, afirma o principal autor do estudo, Valery Lainey. “A maioria dos trabalhos anteriores previu que luas como Titã ou Calisto, de Júpiter, foram formadas a uma distância orbital semelhante à onde as vemos agora”, afirma Jim Fuller, astrofísico e coautor do artigo. “Isso implica que o sistema lunar de Saturno, e potencialmente seus anéis, se formaram e evoluíram mais dinamicamente do que se acreditava anteriormente”, completa.

Nos últimos 50 anos, os cientistas aplicaram as mesmas fórmulas para estimar a rapidez com que uma lua se afasta de seu planeta – uma taxa que também pode ser usada para determinar a idade do satélite. Essas fórmulas e as teorias clássicas nas quais se baseiam foram aplicadas a luas grandes e pequenas em todo o Sistema Solar. As teorias supunham que em sistemas como o de Saturno, com dezenas de luas, as mais externas, como Titã, migravam para fora mais lentamente do que as luas mais próximas porque estavam mais afastadas da gravidade do planeta hospedeiro.

Há quatro anos, Fuller publicou uma pesquisa que derrubou essas teorias, prevendo que as luas externas podem migrar para fora a uma taxa semelhante às luas internas porque ficam presas em um tipo diferente de padrão de órbita.

“As novas medições implicam que esse tipo de interação planeta-lua pode ser mais proeminente do que as expectativas anteriores e que podem ser aplicadas a muitos sistemas, como outros sistemas planetários, exoplanetas e até sistemas estelares binários”, acredita Fuller.

Via: Nasa/Caltech