Uma equipe de pesquisadores da Alemanha e Argentina descobriu evidência de que uma supernova ocorreu próxima à Terra há 2,6 milhões de anos. A “prova do crime” não foi encontrada no espaço, mas sim em depósitos de sedimentos no fundo do mar.

Uma supernova é um dos eventos mais brilhantes em nosso universo. Elas ocorrem quando uma estrela “fica sem combustível”, ou seja esgota todo o hidrogênio que sustenta a fusão nuclear. Com isso ela entra em colapso e explode espetacularmente, liberando em frações de segundos mais energia do que o total já produzido por nosso Sol, por exemplo.

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O estudo das supernovas é importante pois elas representam “o princípio e o fim”. Ao mesmo tempo em que marcam o fim da vida de uma estrela, os elementos químicos gerados na explosão são espalhados pelo universo, vindo a “semear” outras estrelas e planetas. O cálcio em seus dentes, por exemplo, muito provavelmente veio de uma supernova.

Mas além de espalhar elementos químicos pelo universo, supernovas emitem grande quantidade de radiação, na forma de luz visível, raios-X e ultravioleta, que podem ter consequências graves para qualquer biosfera que tenha o azar de estar próxima demais. Cientistas especulam que elas podem ter sido responsáveis por extinções em massa no passado de nosso planeta, como a do período Devoniano há 360 milhões de anos.

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A equipe liderada pelo Dr.Gunther Korschinek da Universidade Técnica de Munique (TU-Munich) analisou crostas de ferromanganês, mineral produzido pelo acúmulo de sedimentos compostos por óxidos de ferro e manganês no fundo do mar.

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A “supernova de Kepler”, registrada pelo Chandra X-ray Observatory. Foto: Chandra X-ray Observatory.

A primeira pista foi um isótopo de ferro chamado Ferro 60 (60Fe), uma das substâncias produzidas por uma supernova. Este elemento tem uma “meia vida” de 2,6 milhões de anos, tempo após o qual decai e se transforma em níquel. Ou seja, qualquer amostra de 60Fe encontrada na Terra é mais jovem do que 2,6 milhões de anos.

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Mas a substância não é exclusividade das supernovas, e também pode ser produzida por estrelas no ramo assintótico das gigantes. Então os cientistas voltaram sua atenção para outro elemento, Manganês-53 (53Mn). Este sim, só pode ser produzido por uma supernova.

Uma pequena quantidade de 53Mn é depositada regularmente na Terra, vinda do espaço. Mas encontrar mais que o normal seria sinal de uma supernova. E foi exatamente o que a equipe do Dr. Korschinek encontrou nas crostas de ferromanganês.

Usando um espectrômetro de massas com acelerador, os pesquisadores conseguiram contar a quantidade de átomos individuais na amostra. E mais: segundo Korschinek, a técnica é tão sensível que permite calcular o tamanho da estrela que explodiu, que teria uma massa entre 11 a 25 vezes a de nosso Sol.

Calcula-se que a estrela estava distante demais de nós para gerar uma extinção em massa, mas mesmo assim ela teria “banhado” nosso planeta com raios cósmicos. Segundo Thomas Faestermann, co-autor do estudo, estes raios podem aumentar a formação de nuvens.

Portanto, pode haver uma ligação com as “eras do gelo” do período Pleistoceno, que começou há 2,6 milhões de anos”. Outros pesquisadores especulam que uma supernova possa ter contribuído para a extinção da megafauna marinha no final do período anterior, o Plioceno.

Fonte: Science Alert