Nós podemos não ter notado, mas astrônomos e astrofotógrafos afirmam que o céu não é mais o mesmo. Desde que empresas como a SpaceX começaram a enviar grandes quantidades de satélites para a órbita da Terra, o trabalho de observação astronômica vem sendo prejudicado pela presença desses objetos, que se apresentam como “arranhões” brilhantes nas imagens captadas por telescópios. 

Isso pôde ser notado com clareza durante a recente passagem do cometa Neowise. O astrofotógrafo Daniel López tinha a expectativa de registrar o corpo celeste em imagens tiradas com auxílio de seu telescópio, mas foi frustrado por um “congestionamento” de satélites que passou bem por cima do cometa. O resultado foi postado em seu Instagram. Na imagem, os riscos brilhantes são todos satélites do programa Starlink, da SpaceX.

 
 
 
Ver essa foto no Instagram

Uma publicação compartilhada por Daniel López (@el_cielo_de_canarias) em22 de Jul, 2020 às 2:42 PDT

 

O objetivo do Starlink é desenvolver uma plataforma de satélites de alto desempenho que possibilite à empresa a comercialização de internet ultrarrápida. Para isso, a SpaceX planeja enviar 12.000 satélites ao espaço nos próximos anos. E não para por aí. Jeff Bezos, CEO da Amazon e homem mais rico do mundo, também tem planos de expandir seus negócios por meio do envio de três mil satélites à órbita da Terra. 

“Isso me afeta muito, mas pode causar problemas ainda maiores para a ciência”, contou Daniel ao El País. Didier Queloz, ganhador do Prêmio Nobel de Física, afirmou que os astrônomos “perderão o céu” se nada for feito. 

Astronomia prejudicada

A Sociedade Espanhola de Astronomia (SEA) sentiu-se ameaçada pelo problema e divulgou um documento alertando que “a proliferação de constelações de satélites artificiais prejudica a observação astronômica”. De acordo com a associação, esses projetos implicarão em consequências consideráveis à ciência caso sejam concluídos. 

Isso acontece porque os satélites refletem a luz do Sol, agindo como pequenos espelhos. Além disso, as frequências emitidas pelos objetos atrapalham as tentativas de ouvir, por meio de radiotelescópios, as ondas de rádio provocadas por eventos cósmicos. O documento elaborado pela SEA demonstrou a preocupação de que “as emissões desses sistemas estarão presentes dia e noite, e sua intensidade poderia prejudicar não apenas as observações radioastronômicas, mas também danificar os detectores projetados para receber a radiação de fontes naturais extremamente fracas”.

Reprodução

Satélites da Starlink sobre a Nova Zelândia. Foto: Chris Aotearoa

Devido às reclamações de diversas sociedades de astronomia do mundo, Elon Musk (dono da SpaceX) chegou a prometer mudanças para diminuir o impacto negativo dos objetos, mas, até o momento, nada foi feito. A situação pode piorar conforme empresas da China e outras gigantes da tecnologia demonstrem o interesse de entrar no ramo da exploração comercial do céu. “As pessoas que enviam esses satélites não se importam”, diz Queloz, “mas para a astronomia, isso representa praticamente o início do fim”. 

Via: El País