Rastros de antigas supernovas caem na Terra até hoje

Estudo sugere que isótopos de ferro radioativo que podem estar 'polvilhando' o planeta têm concentração muito baixa, então não representa perigo algum à saúde
Vinicius Szafran01/09/2020 19h09, atualizada em 01/09/2020 19h38

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Neste exato momento, a Terra pode estar atravessando uma nuvem de poeira cósmica radioativa. Mais especificamente, rastros de antigas supernovas, de acordo com um estudo publicado no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences.

Pode parecer estranho, mas os cientistas têm uma razão para cogitar essa hipótese: a Terra recebe do espaço, continuamente, um isótopo muito específico de ferro. Isso já acontece há 33 mil anos.

Um isótopo é um átomo de um certo elemento, mas com um número diferente de nêutrons em seu núcleo. Nesse caso, trata-se do ferro-60, ou seja, um ferro com uma massa atômica – a soma de prótons e nêutrons – de 60 unidades. Isso é ligeiramente mais pesado que um átomo comum de ferro, cuja massa atômica é de 56 unidades.

Reprodução

Depósitos do isótopo ferro-60 podem ter origem em supernovas. Imagem: Soubrette/iStock

O curioso é que esse polvilhamento de ferro-60 não parou, e continua acontecendo até hoje. Por isso, ainda devemos estar atravessando essa nuvem de poeira cósmica criada por uma supernova, de acordo com o Science Alert. O ferro-60 não surge naturalmente na Terra; na verdade, ele é um dos diversos elementos forjados por supernovas.

Supernovas são explosões de grandes estrelas. Essa enorme explosão acontece quando uma estrela com massa dez vezes maior que o Sol possui muito ferro em seu núcleo e perde a capacidade de fundi-lo. A pressão interna supera a força da gravidade ao redor, fazendo com que a estrela exploda. Nesse momento, a supernova cria elementos mais pesados do que o ferro, além de lançá-los para todos os lados, o que permite o surgimento de novas estrelas e planetas.

Possibilidades

A formação do Sistema Solar deve-se ao aglomerado de material remanescente de uma supernova. A explosão aconteceu há bilhões de anos, mas é o suficiente para gerar desconfiança por parte dos pesquisadores.

O ferro-60 é um isótopo instável, ou seja, radioativo. Isso significa que, com o passar do tempo, ele decai, até tornar-se um átomo de ferro comum. Esse processo de decaimento total leva em torno de 15 milhões de anos. A Terra, por sua vez, tem 4,6 bilhões de anos. Portanto, não há como esse ferro-60 ser oriundo da supernova que formou o Sistema Solar.

Os depósitos mais antigos de ferro-60 no planeta estão no fundo dos oceanos. Segundo os pesquisadores, essas partículas se depositaram entre 2,6 milhões e 6 milhões de anos, sugerindo que essa é a época em que os materiais caíram na Terra.

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Remanescentes da supernova N 49. Imagem: Nasa/ESA

No entanto, novas evidências revelaram depósitos mais recentes. Na Antártica, por exemplo, há material que caiu nos últimos 20 anos. Em outras palavras, os isótopos de ferro radioativo podem estar caindo neste exato momento. Mas sua concentração é muito baixa, então não representa perigo algum à saúde.

Suas maiores implicações são científicas, já que levanta diversos novos questionamentos. O isótopo já foi identificado também no espaço, além de outros locais que não consistem com as previsões.

Embora não se saiba exatamente o que está acontecendo, algumas novas hipóteses buscam explicar a situação. “Há artigos recentes que sugerem que o ferro-60 preso nas partículas de poeira pode saltar no meio interestelar”, disse em comunicado o professor e físico nuclear Anton Wallner. “Portanto, o ferro-60 pode se originar de explosões de supernovas ainda mais antigas, e o que medimos é algum tipo de eco”.

Via: SoCientífica

Vinicius Szafran
Colaboração para o Olhar Digital

Vinicius Szafran é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital