Em dezembro de 2017, os astrônomos descobriram Oumuamua, o primeiro objeto interestelar detectado no Sistema Solar. Em agosto do ano passado, foi a vez do cometa interestelar 2I/Borisov (que recentemente teve sua composição revelada). Agora, pesquisadores acreditam que encontraram uma população inteira de asteroides originários de fora do nosso sistema planetário para além da órbita de Júpiter.
Os objetos em si não são novidade. Os Centauros são corpos menores com órbitas altamente inclinadas em relação ao plano dos demais planetas e, em pelo menos um caso, orbitam o na “contramão”. Essas características levaram os pesquisadores Fathi Namouni, da Université Côte d’Azur, na França, e Helena Morais, do Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista (UNESP), a acreditar que pelo menos 19 desses objetos provavelmente se originaram em torno de outra estrela, como explica o artigo publicado na revista Monthly Notices da Royal Astronomical Society.
“O Sistema Solar formou-se há 4,5 bilhões de anos em um berçário de estrelas, com os seus sistemas de planetas e asteroides. A proximidade entre as estrelas favorecia fortes interações gravitacionais que levavam à troca de material entre os sistemas. Assim, alguns objetos atualmente no Sistema Solar devem ter-se formado em torno de outras estrelas. No entanto, até recentemente, não tinha sido possível distinguir os objetos interestelares capturados daqueles formados em torno do próprio Sol”, explicou Maria Helena à Agência Fapesp.
O estudo teve início com a identificação, em 2018, do asteroide (514107) 2015 BZ509 – justamente o que tem um trajetória retrógrada – hoje chamado de Ka’epaoka’awela (“O travesso de Júpiter” em língua havaiana). “Quando o identificamos como um objeto originado fora do Sistema Solar, não sabíamos se ele era um caso isolado ou membro de uma vasta população de asteroides imigrantes. No estudo mais recente, reconhecemos 19 Centauros de origem interestelar”, completa a pesquisadora.
Os cientistas então estudaram a órbita desse objeto e de outros Centauros, e construíram uma simulação em computador que funciona como uma “máquina do tempo”, retrocedendo sua trajetória até o início da formação do Sistema Solar. “Nossa simulação mostrou que, há 4,5 bilhões de anos, esses objetos giravam em torno do Sol em órbitas perpendiculares ao plano do disco. E o faziam em uma região afastada dos efeitos gravitacionais do disco original”, afirma Maria Helena.
Se confirmada a origem dos objetos, seu estudo poderá ajudar pesquisadores futuros a compreender melhor como funciona a formação dos planetas e asteroides a partir do disco protoplanetário que giram ao redor de estrelas jovens. “O estudo dessa população poderá fornecer informação sobre o berçário estelar em que o Sol se formou, o processo de captura de objetos interestelares no Sistema Solar primordial e a importância do material interestelar no enriquecimento químico do Sistema Solar”, completa a pesquisadora.
Via: Gizmodo/Agência Fapesp