Observatório amador brasileiro fotografa novas manchas solares

Com um telescópio de 200 mm de abertura, o astrônomo amador Gilberto de Melo Dumont, que opera um observatório em Minas Gerais, registrou a atividade recente na superfície do Sol
Renato Mota06/11/2020 20h29

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O Observatório Dumont, localizado em Patos de Minas (MG) e operado pelo astrônomo amador Gilberto de Melo Dumont, flagrou novas manchas na superfície do Sol – tão grandes que comportam dez planetas Terra colocados lado a lado. Essa atividade solar é esperada no início do novo ciclo da estrela.

As fotos foram feitas nesta sexta-feira (6) pelo próprio Gilberto, utilizando uma câmera planetária conectada em foco primário em um dos telescópios do observatório, com 200 mm de abertura. Ainda foi utilizado um filtro solar específico para este tipo de observação. A mancha, denominada AR 2781, está ativa desde a última terça-feira (3).

O Sol passa por ciclos de atividade a cada 11 anos aproximadamente, e à medida que sua atividade aumenta, mais manchas cruzam sua superfície. São essas manchas que dão origem a explosões solares, como a ejeção de massa coronal ou o lançamento de radiação e partículas carregadas pelo Sistema Solar.

Mancha Solar AR 2781

Detalhe da mancha solar AR 2781. Imagem: Observatório Dumont/Divulgação

O efeito disso aqui na Terra varia entre a ocorrência de auroras boreais, interferências no nosso sistema de satélites até o desligamento da rede elétrica no solo. A alternância entre ciclo é causada pela mudança gradual do campo magnético do Sol – como a estrela gira aproximadamente uma vez a cada 27 dias, seu material interno age como um fluido, de modo que seu equador gira muito mais rápido do que seus polos.

Essa rotação faz com que seus poderosos campos magnéticos se tornem progressivamente mais “emaranhados” –  e suas manchas solares e outras atividades magnéticas mais violentas –  até que a estrela inteira inverta sua polaridade magnética. É como se a Terra trocasse seus polos magnéticos Norte e Sul a cada poucos anos.

As manchas solares visíveis são causadas por distúrbios magnéticos que deslocam sua camada externa brilhante e revelam as camadas internas um pouco mais frias (e mais escuras). As manchas podem durar dias ou semanas e variar em tamanho, mas geralmente são muito maiores que a Terra inteira.

Nasa/SDO

Uma mancha solar gigantesca – com quase 128 mil quilômetros de largura – pôde ser vista no centro inferior do Sol no início do ano, nesta imagem feita Solar Dynamic Observatory da Nasa. Imagem: Nasa/SDO

“As manchas apresentam um grande e concentrado campo magnético, mantendo a matéria na forma de plasma, ou seja, um estado da matéria quente e eletricamente carregado”, explica Gilberto. “Há quase um ano elas praticamente não apareciam, e quando ocorriam eram bastante pequenas”, completa o astrônomo amador.

Tais períodos prolongados sem manchas solares geralmente acontecem na época do chamado “mínimo solar” – o tempo de menor atividade de manchas solares entre dois ciclos solares. A mudança de polaridade do Sol faz com que sua atividade magnética – e suas manchas solares – diminuam bastante. Mas o campo magnético rotativo do Sol lentamente se emaranha novamente e o ciclo das manchas solares recomeça.

Espera-se agora que o ciclo 25 atinja um pico em 2024, antes de cair para um novo mínimo em 2031. Desde o último mínimo solar, em 2009, os cientistas ganharam novas ferramentas para o estudo da atividade solar, incluindo a sonda Parker, da Nasa, que orbita o Sol desde 2018. Com os dados coletados na atual mudança de ciclo, possivelmente poderemos prever melhor as próximas.

Editor(a)

Renato Mota é editor(a) no Olhar Digital