Os eventos ocorridos dentro de um buraco negro são um mistério há décadas: qualquer informação que ultrapasse o “ponto sem volta” dele, dificilmente escapa, sem deixar registros. Mas um estudo publicado no banco de dados arXiv, no dia 22 junho, sugere que ondulações no espaço-tempo ou ondas gravitacionais podem carregar resquícios de informações ocultas, revelando a presença de “fios de cabelo” na superfície de buracos negros.

Segundo o estudo — que ainda não foi revisado por pares — da física Lawrence Crowell e do astrofísico Christian Corda, esses “fios de cabelo” dos buracos negros poderiam carregar informações e, dessa forma, seria possível observar o que acontece lá dentro.

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No entanto, o grande desafio dos pesquisadores seria detectar a presença desses cabelos. Eles descobriram que durante o processo de fusão, cabelos normalmente quietos podem ficar energizados, entrelaçado-se com a radiação gravitacional de saída e alterando as ondas gravitacionais de maneiras sutis.

A melhor forma de identificar esses movimentos sutis seria através de otimizações no LIGO (Laser Interferometer Gravitational-Wave Observatory), capazes de detectar pequenas alterações a partir de mudanças no tempo que a luz leva para viajar em detectores distantes. Espera-se que as versões futuras do observatório disponham da sensibilidade para observar as alterações captando as reações dos “fios de cabelo” dos buracos negros.

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Observatório LIGO localizado na região de Livingstone, em Nova Jersey. Foto: Divulgação/LIGO Caltech

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Teorias em conflito

A recente pesquisa entra em conflito com o teorema do físico John Wheeler. Segundo ele, os buracos negros são compostos por apenas três valores: massa, carga e rotação. Até por isso, seria muito difícil distinguir dois buracos negros do mesmo tamanho, com a mesma carga elétrica e girando exatamente na mesma taxa.

Ou seja, segundo Wheeler, não há “fios de cabelo”, tampouco informações nos corpos celestes negros. Todo o resto seria simplesmente destruído além do horizonte de eventos e trancado longe do universo pela eternidade.

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Radiação Hawking

Outra ideia sobre a inexistência de informações no interior de buracos negros foi proposta em 1974, por Stephen Hawking. Apesar de a teoria apontar que os corpos celestes negros não seriam aspiradores cósmicos inescapáveis, ela não reforça a presença de resquícios informativos sobre elementos “abocanhados” pelo buraco negro.

As partículas subatômicas poderiam fugir deles por meio de um processo quântico exótico, que resultaria na liberação de radiação — Radiação Hawking — de suas superfícies. Essa radiação faria com que os buracos negros perdessem energia lentamente, até evaporarem por inteiro.

No entanto, a tese de Hawking contradiz a célebre frase de Lavousier de que “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”.

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Estudo da radiação Hawking que a fuga de partículas subatômicas dentro de um buraco negro resultaria em uma evaporação generalizada do corpo celeste. Foto: Divulgação/Nasa

Enquanto os avanços tecnológicos do LIGO não saem, impossibilitando a detecção dos eventos gerados pelos “fios de cabelo” dos buracos negros, o que resta é esperar.

Mas é certo que a recente pesquisa de Crowell e Corda podem ser essenciais para desmistificar alguns aspectos dos misteriosos buracos negros.

Via: Live Science