Nem asteroide, nem cometa. Oumuamua pode ser um ‘iceberg cósmico’

Objeto seria um grande bloco de hidrogênio congelado, formado no coração de uma nuvem interestelar sob temperatura próxima do zero absoluto
Rafael Rigues15/06/2020 17h53, atualizada em 15/06/2020 17h55

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Desde que foi descoberto, em 2017, várias teorias tentaram explicar a origem e composição de Oumuamua, primeiro objeto de origem interestelar detectado por nossos cientistas. Originalmente identificado como um asteroide, houve que o considerasse um cometa, ou até mesmo uma sonda alienígena.

Mas uma nova teoria, proposta por pesquisadores da universidade de Yale, nos EUA, pode significar que nosso visitante não é uma coisa nem outra. De acordo com o Dr. Darryl Seligman, que na época da pesquisa era estudante de graduação de Yale, e seu orientador Greg Laughlin, nosso visitante é um grande pedaço de hidrogênio congelado, uma espécie de “iceberg cósmico”.

Mais ainda, ele seria um resquício de uma era primordial, vindo não de outro sistema planetário ou estelar, mas sim das profundezas do núcleo de uma nuvem interestelar, gigantescas estruturas compostas por gás e poeira que, às vezes, dão origem a novas estrelas.

Essas nuvens, compostas principalmente de hidrogênio molecular remanescente do Big Bang, podem conter a massa de dezenas de milhares de sóis e abranger centenas de anos-luz. Em seu centro, onde nenhum sol brilha, a temperatura pode cair a apenas alguns graus acima do zero absoluto, fria o suficiente para o próprio hidrogênio, o elemento mais leve, mais volátil e mais comum do universo, congelar.

Por sua vez, essas partículas congeladas grudam em pequenos grãos de poeira interestelar, crescendo em alguns milhares de anos até se tornar um “cubo de gelo” de centenas de metros de largura, como Oumuamua.

Os cientistas chegaram a esta conclusão depois de analisar a trajetória de Oumuamua e calcular as forças e influências sobre ele durante sua jornada. Os cientistas observaram que o objeto estava acelerando ao se afastar do sistema solar, o que significa que algo estava lhe dando um impulso. Isso poderia ser causado por gelo sublimando ao ser exposto à luz do Sol. Se esta hipótese estivesse correta, Oumuamua seria um cometa.

Mas quando os Drs. Seligman e Laughlin tentaram simular o comportamento do objeto de acordo com cálculos de quanta energia ele teria recebido do Sol, descobriram que gelo de água, o principal componente dos cometas, não conseguiria fornecer impulso suficiente para explicar a aceleração observada. Segundo o Dr. Seligman, “hidrogênio congelado, entretanto, fornece um mecanismo que pode explicar essa aceleração”.

“Quando Oumuamua passou perto do Sol e recebeu seu calor, o hidrogênio da superfície gelada ferveu rapidamente, fornecendo a aceleração observada e também desgastando Oumuamua até atingir sua estranha forma alongada, assim como uma barra de sabão se torna uma lasca fina depois de muitos usos no chuveiro. “

O Dr. Seligman calculou que o objeto se eventualmente se tornou Oumuamua vagou pelo espaço por menos de 100 milhões de anos – não muito, numa escala galáctica – até chegar até nós.

Se sua teoria estiver correta, novos observatórios como o Vera Rubin, atualmente em contrução no Chile e projetado para analisar todo o céu a cada três dias, serão capazes de detectar mais destes “icebergs” de hidrogênio entrando no sistema solar.

Fonte: The NY Times

Colunista

Rafael Rigues é colunista no Olhar Digital