Molécula orgânica inédita é encontrada na Via Láctea

Propargilimina faz parte do grupo de moléculas orgânicas complexas que desempenham um papel fundamental nos processos que criam aminoácidos, RNA e DNA
Redação18/06/2020 18h49, atualizada em 18/06/2020 19h25

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Astrônomos do Instituto Max Planck de Física Extraterrestre, na Alemanha, identificaram, em uma gigantesca nuvem no meio interestelar, a propargilimina, uma molécula orgânica inédita até então, que pode desempenhar um papel fundamental no surgimento da vida.

“A peculiaridade desta espécie química reside na sua dupla ligação carbono-nitrogênio, o que lhe confere alta reatividade”, explicou o astroquímico Luca Bizzocchi. “Com essa ligação dupla, torna-se um constituinte fundamental das cadeias químicas que levam das moléculas mais simples e abundantes no espaço, contendo carbono e nitrogênio – por exemplo, formaldeído (H2CO) e amônia (NH3), respectivamente – aos aminoácidos complexos, os blocos fundamentais da biologia terrestre”, acrescentou.

A propargilimina foi encontrada na Zona Molecular Central, um sistema de nuvens rico em gás molecular localizado próximo ao centro da Via Láctea. Assim como outras moléculas orgânicas complexas armazenadas por lá, como o metanoato de etila, o cianeto isopropil e o óxido de propileno, a propargilimina é uma molécula prebiótica, ou seja, desempenha um papel nos processos prebióticos que criam os blocos de construção da vida, como aminoácidos, RNA e DNA.

Além disso, moléculas com dupla ligação carbono-nitrogênio, como a propargilimina, são essenciais em um processo químico conhecido como síntese de Strecker, aplicado no desenvolvimento de aminoácidos em laboratório.Reprodução

Zona Molecular Central. Imagem: Nasa


Estudo do espectro completo

Apesar de inédita, a propargilimina tem estrutura semelhante a algumas moléculas orgânicas que já foram identificadas espaço afora. Por isso, Bizzocchi e sua equipe decidiram estudar seu espectro completo para tentarem encontrá-la em outros lugares.

Para tal, é necessária uma espécie de impressão química digital, que pode ser registrada a partir da absorção e emissão da radiação eletromagnética com que moléculas como a propargilimina interagem quando uma luz passa através de uma nuvem molecular. Os comprimentos de onda específicos resultantes desse processo são chamados de linhas de absorção e emissão do espectro magnético – a verdadeira impressão digital dessas moléculas.

“Quando uma molécula gira no meio interestelar, emite fótons em frequências muito precisas”, afirmou Bizzocchi. “Essas informações, quando combinadas com dados de radiotelescópios, permitem saber se uma molécula está presente nas nuvens moleculares, nos locais de formação de estrelas e planetas”, completou.

Com a impressão digital química da propargilimina em mãos, a equipe de astrônomos foi capaz de compilar um perfil espectral altamente preciso da molécula e comparar esse resultado com observações espectrais feitas por um telescópio na Serra Nevada, Espanha, que é focado em uma nuvem da Zona Molecular Central intitulada G + 0.693-0.027.

Para a surpresa dos astrônomos, a propargilimina já estava lá antes mesmo de ser notada. “Ela estava em nossos dados da nuvem molecular G + 0.693-0.027, mas não conseguimos identificá-la sem conhecer sua espectroscopia precisa, que é a descrição completa do seu padrão de frequência de emissão. Assim que o obtivemos, graças às medições em laboratório, percebemos que a propargilimina estava, sem dúvida, lá, esperando que alguém a reconhecesse”.

Isso mostra como há coisas no universo que só estão esperando para serem descobertas.

Via: ScienceAlert

Colaboração para o Olhar Digital

Redação é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital