Se um conceito proposto pelo físico russo Slava Tyryshev, do Laboratório de Propulsão a Jato (JPL) da Nasa, der certo, em algumas décadas poderemos ter uma foto em alta resolução da superfície de um exoplaneta a até 100 anos-luz de distância de nós. Para isso, basta usar nosso Sol como um gigantesco telescópio.

A proposta é baseada em um fenômeno chamado “lente gravitacional”, que foi originalmente proposto por Albert Einstein e colocado em prática várias vezes para fotografar galáxias distantes. Simplificando, a atração gravitacional exercida por um objeto de grande porte, como uma estrela ou galáxia, distorce a luz ao seu redor como uma lente e amplia a imagem de outros objetos diretamente atrás dele.

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Imagem reconstruída da galáxia MG J0414+0534, capturada com a ajuda de uma lente gravitacional

Imagem reconstruída da galáxia MG J0414+0534, capturada com a ajuda de uma lente gravitacional. Fonte: ALMA/ESO/NAOJ/NRAO/ K. T. Inoue et al

MG J0414+0534A proposta de Turyshev consiste em enviar uma espaçonave em uma jornada de 60 bilhões de quilômetros, 16 vezes mais que a distância entre a Terra e Plutão, até o “ponto focal” do Sol. De acordo como os cálculos do cientista, neste local uma espaçonave com um terço do tamanho do Telescópio Espacial Hubble seria capaz de produzir uma imagem com resolução de alguns megapixels de um planeta a até 100 anos-luz de nós.

Se tal planeta tiver o tamanho da Terra, cada pixel na imagem representaria uma área de 35 km quadrados. É uma resolução equivalente à da foto conhecida como “Earthrise”, que mostra o “nascer da Terra” sobre o horizonte lunar, tirada em 24 de dezembro de 1968 durante a missão Apollo 8. Seria o suficiente para identificar oceanos, continentes, florestas e talvez até mesmo sinais de uma civilização.

Reprodução

Feita durante a missão Apollo 8, a “Earthrise” é uma das fotos mais icônicas na história de nossa exploração do espaço.

Obviamente, as coisas não são tão simples quanto parecem: 60 bilhões de km são cerca de 4,6 vezes a distância percorrida pela Voyager 1, que atualmente é o objeto produzido pelo homem mais distante da Terra, a 13,8 bilhões de km. Distância esta que foi percorrida em 43 anos.

Para contornar esse problema, Turyshev quer usar uma “frota” de pequenas espaçonaves, cada uma não muito maior que um forno de microondas, equipadas com velas solares. Elas começariam sua jornada em uma rota que as levaria a 6 bilhões de quilômetros do Sol, quando a força gravitacional de nossa estrela funcionaria como um “estilingue”, acelerando-as a mais de 480 mil km/h.

É uma velocidade próxima à da Parker Solar Probe, o objeto mais rápido já construído. Com isso, as espaçonaves levariam apenas 25 anos para chegar ao seu destino. Lá elas seriam combinadas para formar o telescópio, que usaria um sistema de inteligência artificial para localizar seu alvo e começar a captura da imagem.

A proposta de Turyashev foi aprovada como parte do NASA Innovative Advanced Concept (NIAC) no estágio 3, ou seja, é um conceito que está “pronto” para começar a ser transformado em uma missão. Agora, o cientista e sua equipe irão trabalhar na solução dos muitos desafios tecnológicos associados à proposta.

Seu objetivo é criar uma “demonstração da tecnologia” que possa ser lançada em alguns anos, o que envolve equipar uma espaçonave com velas solares, acelerá-la a alta velocidade e fotografar alguns objetos em nosso sistema solar.

“Ao final do estágio 3 gostaríamos de ter um compromisso da NASA e de parceiros na indústria para uma missão de demonstração da tecnologia”, diz Turyshev. “Gostaríamos que ela fosse o mais próximo possível da realidade”.

“A principal motivação para todos que contribuem para este projeto é mover essa ideia da ficção científica para a realidade, para que a atual geração de pessoas que vive neste planeta possa desfrutar de imagens de um mundo alienígena”, diz Turyshev. “Estamos sozinhos?’ É uma pergunta que todos fazemos e que poderemos responder durante nossa vida”.

Fonte: Wired