Sempre que alguém quer ilustrar uma publicação com uma incrível imagem do cosmos, escolhe uma foto de uma nebulosa. Essas incríveis estruturas espaciais feitas de poeira, hidrogênio, hélio e outros gases ionizados desde sempre fascinaram os seus observadores. Uma pesquisa recente sobre ventos estelares em torno de estrelas no fim da vida trouxe mais conhecimento de como as nebulosas planetárias adquirem suas formas hipnotizantes.
As descobertas, publicadas na Science, contradizem por exemplo o consenso comum de que os ventos estelares seriam esféricos, assim como as estrelas de onde vêm. De acordo com os pesquisadores, estrelas companheiras e até planetas mudam a forma do vento estelar e criam os padrões únicos que cercam essas estrelas.
A equipe de astrônomos concentrou suas observações em fluxos de partículas em torno de estrelas gigantes vermelhas frias, também conhecidas como estrelas de ramos gigantes assintóticos (AGB). “As AGB estão nos últimos estágios de evolução pouco antes de se transformarem em uma nebulosa planetária”, explica Carl Gottlieb, astrônomo do Centro de Astrofísica de Harvard e coautor do artigo.
“Por meio de seus ventos, as estrelas AGB contribuem com cerca de 85% do gás e 35% da poeira de fontes estelares para o Meio Interestelar Galáctico, e são os fornecedores dominantes de blocos de construção do material interestelar a partir do qual os planetas são formados”, completa Gottlieb.
Ventos estelares em torno de estrelas frias formam uma enorme variedade de padrões nas nebulosas planetárias, como discos, cones e espirais. O material de cor azul está vindo na direção da Terra, enquanto o material vermelho se afasta de nós. Imagem: L. Decin, ESO/ALMA
Estrelas moribundas incham e esfriam para eventualmente se tornarem gigantes vermelhas. Eles produzem ventos estelares – fluxos de partículas expelidos conforme a estrela perde massa. Devido à falta de observações detalhadas, os astrônomos sempre presumiram que esses ventos eram esféricos, como as estrelas que os cercam.
À medida que a estrela evolui mais, ela se aquece novamente e a radiação estelar faz com que as camadas ejetadas brilhem, formando uma nebulosa planetária. Porém, apesar de parecem ter uma certa simetria, as nebulosas quase nunca são redondas. A partir de dados coletados do Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA), no Chile – o maior o maior radiotelescópio do mundo, os astrônomos puderam conectar a formação do vento estelar à das nebulosas planetárias.
“Algumas são semelhantes a discos, enquanto outras têm a forma de olhos, estruturas espirais e até arcos”, afirma Gottlieb. Os pesquisadores perceberam que as formas não são aleatórias, mas que estrelas de baixa massa e planetas pesados ânas proximidades das AGB estavam influenciando nos padrões.
“Assim como uma colher que você mistura em uma xícara de café com um pouco de leite pode criar um padrão em espiral, o companheiro suga o material em direção a ele conforme gira em torno da estrela e molda o vento estelar”, explica Leen Decin, professora da Universidade KU Leuven, na Bélgica, e o principal autora do artigo.
As novas descobertas podem ter um impacto significativo nos cálculos da evolução galáctica e estelar, principalmente para a evolução de estrelas semelhantes ao Sol. “Uma vez que a complexidade dos ventos estelares não foi contabilizada no passado, qualquer estimativa anterior da taxa de perda de massa de estrelas antigas pode estar errada por um fator de até 10”, avalia Decin.
O estudo também fornece uma base sólida para a compreensão da evolução de estrelas semelhantes ao Sol. “Em cerca de cinco bilhões de anos, o Sol se tornará mais luminoso”, conta Gottlieb. “Seu raio se expandirá para um comprimento comparável à distância atual entre o Sol e a Terra, e ele entrará na fase AGB”.
Nesse cenário, Júpiter e Saturno moldarão a nebulosa que poderá envolver nossos Sistema Solar. “Porque têm uma massa tão grande, esses planetas irão influenciar se o Sol vai passar seus últimos milênios no centro de uma espiral, uma borboleta ou qualquer outra forma fascinante que vemos nas nebulosas planetárias hoje”, afirma a autora do artigo.
Via: Space.com