A força gravitacional de uma pequena galáxia chamada Grande Nuvem de Magalhães está deformando a Via Láctea com “extrema violência”, 700 milhões de anos depois de as duas cruzarem seus caminhos. É o que aponta um estudo realizado por astrônomos da Universidade de Edinburgo e publicado na revista Nature Astronomy.
A grande quantidade de matéria escura da Grande Nuvem de Magalhães, comumente abreviada como LMC (do inglês Large Magellanic Cloud), perturbou a constituição e o movimento de nossa galáxia, e seus efeitos continuam sendo sentidos, ainda de acordo com o estudo, que também aponta a necessidade de uma revisão de como a Via Láctea evoluiu.
Cercada por matéria negra, que tem efeitos gravitacionais no movimento de estrelas e gás no universo, a LMC se tornou uma galáxia satélite da Via Láctea, e pode ser vista no céu do hemisfério sul durante a noite.
Os pesquisadores utilizaram um sofisticado modelo estatístico para calcular a velocidade das estrelas mais distantes de nossa galáxia e descobriram que a força gravitacional da LMC atrai a Via Láctea a uma velocidade de 115,200 quilômetros por hora na direção da constelação de Pégasus. Ao mesmo tempo, a nuvem se afasta da Via Láctea em uma velocidade ainda maior, cerca de 1,3 milhões de quilômetros por hora.
Descoberta muda concepções acerca da Via Láctea. Crédito: Denis Belitsky/Shutterstock
A combinação desses fatores faz com que a Via Láctea se mova na direção de um ponto passado da trajetória da LMC, e não na direção da localização atual da nuvem, como se imaginava anteriormente. Segundo os astrônomos, é como se a Via Láctea estivesse tentando acertar um alvo em movimento, mas sem mirar corretamente.
Próximos passos
Com a descoberta, os cientistas esperam criar novas técnicas de modelagem para entender melhor a dinâmica entre duas galáxias. “Nossos resultados implicam em uma nova geração de modelos da Via Láctea, para descrever a evolução de nossa galáxia”, explica o dr. Michael Petersen, Pesquisador Pós-doutor Associado da Escola de Física e Astronomia da Universidade de Edinburgo e autor principal do estudo.
Também está entre os próximos passos da equipe saber em qual direção a LMC cruzou com a Via Láctea e o momento exato em que isso aconteceu, para descobrir com detalhes a quantidade e a distribuição de matéria escura nas duas galáxias. “Fomos capazes de mostrar que estrelas a distâncias incríveis, de até 300,000 anos-luz, retém memórias da Via Láctea antes da LMC, e medimos o disco estelar voando pelo espaço, sendo puxado pela força gravitacional da LMC”, completou Petersen.
Para o professor Jorge Peñarrubia, Personal Chair de Dinâmica Gravitacional da Escola de Física e Astronomia, o estudo muda o status quo da Via Láctea. “Esta descoberta definitivamente quebra o encanto de que nossa galáxia está em um tipo de estado de equilíbrio. Na verdade, a incursão da LMC está causando violentas perturbações na Via Láctea. Entendê-las pode nos dar uma visão sem precedentes da distribuição de matéria escura em ambas as galáxias”, afirma.
Fonte: Phys.org