Se as viagens espaciais se tornarem comuns, será essencial que os astronautas consigam se virar de todas as formas possíveis – isso inclui curar possíveis ferimentos. Felizmente, Oleg Kononenko, cosmonauta russo a bordo da Estação Espacial Internacional (ISS), parece ter dado o primeiro passo para isso ao construir a primeira cartilagem humana no espaço.

Utilizando técnicas de magnetismo, foi possível produzir o material sem o uso dos chamados andaimes físicos de tecido. Equipamentos do tipo já existem na Terra, mas dependem de gravidade e estruturas que garantem a união das células da cartilagem. A parte inteligente do novo processo é usar o magnetismo como substituto da gravidade.

Com a ajuda do sistema, os efeitos da microgravidade e aceleração podem ser neutralizados, e objetos – como as células dessas cartilagens – podem ser mantidas no lugar, prontos para a montagem do componente humano.

Antes dos experimentos a bordo da ISS, cientistas desenvolveram modelos matemáticos e simulações em computador para investigar a viabilidade do processo, observando como a microgravidade poderia afetar a maneira como as células são montadas.

Processo

Uma equipe de cientistas desenvolveu esferoides com base em células da cartilagem humana, que foram empacotadas e enviadas para a ISS junto de uma máquina de bio-montagem construída pela empresa russa 3D Bioprinting Solutions.

A borda da ISS, o processo de fabricação exigia o resfriamento dos esferoides para que fossem liberados da embalagem de hidrogel em que foram colocados antes de serem inseridos na máquina para construção da cartilagem.

Screenshot_2020-07-17_at_2.12.44_PM_1024-1.jpg

Esferoides logo após serem retirados da embalagem. Foto: Vladislav Parfenov/3D Bioprinting Solutions

Mas, além do objetivo atingido, a técnica é um grande avanço para a ciência, pois, no futuro, pode ser usada para construir outros materiais com bases biológicas e inorgânicas. É possível que astronautas pudessem substituir até ossos inteiros enquanto estivessem explorando outros planetas.

No entanto, ainda é necessário muito mais trabalho até que esse estágio seja atingido, além de ser preciso que o tipo de equipamento seja aprimorado para aguentar a viagem – processos de decolagem e instrumentos delicados não se dão muito bem.

Com projetos paralelos para cultivo de carnes e frutas no espaço em andamento, uma viagem a Marte parece menos assustadora do que seria há alguns anos.

“Pode-se imaginar não muito longe no futuro que, se colonizarmos Marte ou fizermos viagens espaciais a longo prazo, poderemos fazer experimentos onde construímos tecidos funcionais no espaço e testá-los em ambientes extraterrestres”, disse Utkan Demirc, cientista da Universidade Stanford, ao comentar o avanço.

Via: Science Alert