Bactéria terrestre sobrevive por três anos no espaço

Experimento descobriu que 'bolas' de bactérias podem sobreviver aos danos da radiação ultravioleta e outras adversidades climáticas do espaço
Luiz Nogueira27/08/2020 15h32, atualizada em 27/08/2020 16h05

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O espaço não é necessariamente um bom lugar para a vida humana – pelo menos por enquanto. E mesmo protegidos dentro da Estação Espacial Internacional (ISS), alguns cientistas chegaram a apresentar efeitos negativos de saúde. Mas a história pode ser diferente se você for um organismo microscópico. Na verdade, alguns fungos que se instalaram na ISS até acharam as condições por lá bastante favoráveis e, surpresa, sobreviveram por três anos enfrentando toda “adversidade espacial”.

Em um estudo publicado na revista Frontiers in Microbiology, pesquisadores japoneses descrevem como enviaram bolas densamente compactadas de bactérias do tipo Deinococcus radiodurans para a ISS e as colocaram do lado de fora do laboratório, onde foram expostas ao clima severo, frio e com alta radiação.

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Estação Espacial Internacional. Foto: Dima Zel/ Shutterstock

Esse experimento, que ficou conhecido como Tanpopo, está em andamento desde 2015. Testes simultâneos foram conduzidos para examinar as amostras após um, dois e três anos. Em 2018, o estudo foi finalizado e, desde então, a equipe de cientistas, liderada por Akihiko Yamagishi, analisa os dados coletados.

A principal descoberta mostra que as bolas podem sobreviver aos danos da radiação ultravioleta no espaço muito melhor quando as esferas são maiores. Quando elas tinham cerca de meio milímetro de espessura, as camadas externas de bactérias começaram a se decompor, mas as do centro sobreviveram.

Yamagishi e sua equipe concluíram que essas bolas mais espessas, quando expostas ao espaço, podem sobreviver de dois a oito anos – em teoria, o suficiente para que sejam ejetadas da Terra e cheguem a um dos vizinhos mais próximos do planeta.

“Os resultados sugerem que o Deinococcus pode sobreviver durante uma viagem da Terra a Marte e vice-versa, o que leva vários meses ou anos na órbita mais curta”, disse Yamagishi.

Panspermia

Uma teoria que pode explicar a descoberta dos cientistas é a Panspermia. A hipótese sugere que algumas bactérias podem fazer viagens interplanetárias presas dentro de meteoritos. No entanto, ainda há uma série de questões pendentes sobre o assunto.

O experimento organizado pela equipe de cientistas propôs uma situação em que a bola de bactérias é lançada diretamente para o espaço. Porém, não é necessariamente isso que acontece. “Em teoria, isso pode levar meses ou anos. A probabilidade de um objeto ser ejetado da Terra e chegar a Marte em um curto espaço de tempo é pequena”, disse, Brendan Burns, astrobiólogo da Universidade de New South Wales.

Embora a pesquisa de Yamagishi demonstre a capacidade de bactérias sobreviverem ao espaço por muito tempo, Burns observa que os meteoritos podem voar por mais de 10 milhões de anos antes de chegarem a algum planeta.

Outra questão envolve o deslocamento entre um planeta e outro. A primeira etapa é conseguir ser expulso do planeta natal sem morrer. Em seguida, mesmo que chegue a outro local rapidamente, sobreviver a uma reentrada pode ser bastante difícil.

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Para bactérias, sobreviver a uma reentrada pode ser difícil. Foto: studio23/ Shutterstock

Mas digamos que o Deinococcus superou tudo isso, o que poderia acontecer após chegarem a um novo lar? A situação é bastante preocupante, principalmente para uma bactéria que está acostumada com um mundo aquático e protegido por uma atmosfera densa.

“Mesmo que uma determinada forma de vida pudesse sobreviver a uma viagem interplanetária, as condições de onde ela termina devem ser as ideais para que decole novamente”, diz Burns. Ele observa que os micróbios precisam procurar nutrientes e precisam ser resistentes o suficiente para resistir a quaisquer diferenças de atmosfera.

A equipe de Yamagishi e a missão Tanpopo continuarão os experimentos de exposição “com espécies diferentes em condições diferentes” e esperam ver quão geral pode ser o processo de sobrevivência.

Via: Cnet

Luiz Nogueira
Editor(a)

Luiz Nogueira é editor(a) no Olhar Digital