Brenton Tarrant, o atirador responsável pelo massacre que resultou na morte de 51 muçulmanos no ano passado em duas mesquitas da Nova Zelândia, foi condenado a prisão perpétua sem direito à liberdade condicional. A sentença foi proferida por um tribunal na noite da última quarta-feira, 26 de agosto. Durante a semana, sobreviventes e familiares de vítimas testemunharam no local, além de a promotoria ter revelado novos fatos sobre o plano de Tarrant, que utilizou um drone para espionar a mesquita de Al Noor de Christchurch dois meses antes dos ataques. O criminoso também usou de outros recursos tecnológicos para praticar os atos.

O drone em si serviu para que o assassino descobrisse onde estavam localizadas as entradas e saídas do local. Brenton Tarrant também usou o Facebook como parte do plano. Na rede social, ele transmitiu horríveis 17 minutos do ataque em tempo real, antes que a live fosse tirada do ar. O assassino pareceu saber usar a tecnologia de várias formas, pois a transmissão foi realizada por meio da câmera GoPro que estava acoplada em seu capacete. Apesar do esforço de várias empresas de mídia em tirar cópias do vídeo da internet, o show de horror percorreu Facebook, Twitter e YouTube.

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Atirador utlizou drone, o que possibilitou melhor visão do local para concretizar o plano. Créditos: Shutterstock

Em 2019, um neonazista, também morador da Nova Zelândia, foi condenado a 21 meses de prisão por compartilhar o vídeo do massacre. Na legenda, o homem definiu o ato como “incrível”.

Tarrant realmente gostava de redes sociais e as usou sem limites para concretizar o que havia planejado. Para espalhar o terror, o homem enviou mensagens de textos para a família minutos antes do ataque à primeira mesquita. O objetivo? Contar o que faria! Sobre isso, ainda não está claro se os parentes do criminoso tentaram ou não acionar as autoridades para impedir a ação.

Em suas contas no Facebook e Twitter, que inclusive foram deletadas, o atirador postava frequentemente notícias e artigos que poderiam causar medo aos muçulmanos. Ainda na internet, ele estudou a estrutura das mesquitas por meio de fotos. A análise foi essencial para que Tarrant identificasse os dias com maior movimento de pessoas nos locais atacados.

Shutterstock-4.jpg A mesquita de Al Noor sofreu com a perda de 44 fiéis. Créditos: Shutterstock

Depoimentos

Sobreviventes e familiares de vítimas do massacre aproveitaram seu lugar de fala para expressar vários tipos de sentimentos durante os testemunhos. Wasseim Sati Ali Daragmih, que ficou ferido no ataque, disse a Brenton Tarrant que seu plano resultou no fortalecimento da comunidade muçulmana, que recebeu apoio de todas as parte do mundo. “Seu plano falhou”, disse Daragmih.

Aden Dirive também foi ferido durante o tiroteio e perdeu seu filho de três anos. Tarrant atirou categoricamente em Mucaad Ibrahim enquanto este agarrava a perna do pai.

Haji-Daoud Nabi, de 71 anos, também foi morto no ato. Seu filho, Ahad Nabi, proferiu um discurso inflamado, no qual referiu-se a Brenton Tarrant como “lixo”, afirmando que ele deveria ser enterrado em um aterro. Nabi também pediu ao tribunal que colocasse o atirador em uma prisão comum, pois não era certo desperdiçar o dinheiro dos contribuintes da Nova Zelândia com a proteção especial do assassino. “Você queria um mundo que promovesse o culto racional de uma cor só, mas você falhou”, finalizou Ahad Nabi.

Durante os depoimentos, Tarrant, supostamente, não apresentou nenhuma reação.

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Vítimas foram lembradas em testemunhos no tribunal durante a semana. Créditos: Shutterstock

A sentença

Sobre a sentença de Tarrant, vale destacar que ela também foi um marco, visto que não é de costume da Nova Zelândia proferir prisões perpétuas sem o direito à liberdade condicional. O país aboliu a pena de morte em 1961 e sentenciou Brenton Tarrant com sua maior e mais grave penalidade.

No momento em que declarou a prisão perpétua, o juiz Cameron Mander afirmou que qualquer tempo fixado pela lei não seria o suficiente para que Tarrant pagasse por seus crimes e por sua falta de empatia com as vítimas.

O crime e suas consequências

No dia 15 de março de 2019, Brenton Tarrant matou 51 pessoas em duas mesquitas da Nova Zelândia. Foram 44 assassinatos dentro e ao redor da mesquita Al Noor e mais sete na mesquita Linwood. Tarrant usou um AR-15. Quando estava a caminho de uma terceira mesquita, foi contido pela polícia. O condenado se declarou culpado de 51 acusações de homicídio, 40 tentativas e uma de terrorismo.

O assassino escreveu um manifesto chamado “A Grande Substituição” em sua conta no Twitter antes do massacre. No texto, ele define o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, como “um símbolo da identidade branca renovada”. Aqui, cabe frisar que o chefe do país americano não apoiou o movimento “Chamada de Christchurch”, que ocorreu dias depois do massacre. O ato foi direcionado pela primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, e pelo presidente da França, Emmanuel Macron.

Outro ato realizado quase que imediatamente depois do crime, foi a solicitação generalizada por parte da população para o fortalecimento das leis que regulamentam o uso de armas no país. Atendendo ao pedido dos moradores, o governo aprovou uma nova legislação de controle de armas de fogo em apenas 12 dias.

Fonte: Gizmodo e Reuters