O excelente “O Caso Richard Jewell“, mais recente longa dirigido por Clint Eastwood, continua em cartaz, segurando-se, na capital paulista, em um único horário de uma única sala (espero que esteja melhor em outras cidades).
Quase deixamos passar a oportunidade de fazer uma espécie de guia para a filmografia desse grande diretor. Aos 45 minutos do segundo tempo, cá está, em ordem cronológica, dez filmes para entender por que o velho Clint é um dos cineastas mais importantes em atividade.
Alerta: vários grandes filmes estão fora da lista abaixo. O que demonstra a grandeza dessa carreira.
O Estranho Sem Nome (1973)
O cavaleiro solitário surge e desaparece como um fantasma, mas ajuda a cidadezinha contra uns malfeitores. Como? Transformando-a num inferno. Nasce um autor.
Josey Wales – O Fora da Lei (1976)
Eastwood brilha ainda mais neste segundo faroeste que dirigiu. Josey Wales é um dos diversos personagens eastwoodianos que desmente todas as papagaiadas sobre um suposto racismo do diretor. E o filme é um primor de encenação e ritmo.
Bronco Billy (1980)
O filme infantil de Eastwood (“cowboys and indians”, diverte-se a criança dentro do trem) é também um dos mais belos libelos por um gênero, o faroeste, que há muito havia deixado de estar em alta em Hollywood, embora nunca tenha de fato desaparecido.
Honkytonk Man (1982)
O primeiro dos personagens terminais de Eastwood é também um dos mais belos. Talentoso, mas impulsivo e irresponsável com a própria saúde. Filme de uma poesia indescritível, dos mais belos momentos do cinema nos anos 1980.
Os Imperdoáveis (1992)
Após uma fase alternando altos (Coração de Caçador, Bird) com menos altos (Rookie), Clint inicia, com Os Imperdoáveis, a melhor fase de sua carreira, embalando três obras-primas em sequência.
Um Mundo Perfeito (1993)
Segunda das três obras-primas que Clint realizou em seguida nos anos 1990, conta com um Kevin Costner inspirado e uma incrível coragem no retrato da forte amizade entre um menino e seu raptor.
As Pontes de Madison (1995)
Meryl Streep tem o melhor papel de sua carreira como a quarentona que se apaixona por um fotógrafo, mas tem medo de abandonar o marido e a família para perseguir essa paixão incerta. Filme da década de 1990 para a prestigiada revista francesa Cahiers du Cinéma.
Crime Verdadeiro (1999)
Um dos filmes mais bem dirigidos de Eastwood e sua quarta obra-prima nos anos 1990. O ator/diretor faz um jornalista irresponsável que pelo faro acaba salvando um homem do corredor da morte. A crítica ao racismo entra de maneira sutil, e por isso é mais forte.
Menina de Ouro (2004)
Mais um personagem terminal, ainda que de uma outra forma (a moral), em um longa que impressiona pela direção exemplar (com um claro-escuro igualmente exemplar) e uma aula de ritmo.
Gran Torino (2008)
Mais um personagem terminal, que no caso ainda tem tempo para deixar de ser racista e de perceber que a verdadeira família é aquela que se elege, e pode não ter nada a ver com o próprio sangue.
* Sérgio Alpendre é crítico e professor de cinema