Governador do Rio negocia uso de tecnologia de reconhecimento facial

Em reunião, o ministro do Comércio britânico falou com Wilson Witzel sobre como melhorar a segurança pública no estado
Vinicius Szafran30/01/2020 18h18

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Em uma reunião com o governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel, um ministro do governo britânico prometeu apoio do Reino Unido em questões de segurança pública, promovendo a experiência de seu país em vigilância e reconhecimento facial.

Conor Burns, ministro do Departamento de Comércio Internacional (DIT), elogiou a ambição do governador de diminuir a violência em seu estado, de acordo com documentos oficiais. O governo de Witzel é marcado por um aumento nos casos de mortes causados por policiais, na guerra contra o tráfico.

Um briefing preparado para o ministro antes da reunião, realizada em 19 de agosto de 2019 na cidade do Rio de Janeiro, revelou uma “oportunidade de parceria” noparla setor de segurança entre a administração de Witzel e o Reino Unido. O briefing para Burns observou, na seção intitulada “pontos a serem destacados”, que “a segurança pública também está no topo da agenda do meu governo”.

Aliado do presidente Jair Bolsonaro, Witzel falou durante sua campanha eleitoral em dar amplos poderes à polícia para combater o crime no estado. Isso incluía uma proposta para permitir que policiais usassem helicópteros como postos de tiro para “massacrar” os criminosos.

Segundo dados oficiais do Instituto de Segurança Pública do Rio, entre janeiro e novembro de 2019, 1.686 pessoas foram mortas pela polícia no estado, em média cinco por dia. Os números já superaram 2018, aquele que era o pior ano desde que os registros começaram, em 2003: foram 1.534 mortos.

Algumas semanas antes de seu encontro com Burns, Witzel pediu à polícia que tivesse ainda mais liberdade, dizendo que os policiais deveriam perder seu “medo de matar”.

Reprodução

O Reino Unido fez da obtenção de um acordo comercial com o Brasil uma prioridade assim que o país deixar a União Europeia. Burns disse que o país deseja trabalhar com Witzel em outros setores da economia, incluindo energia. Tanto a Shell quanto a British Petroleum (BP) mantêm blocos de petróleo na região do pré-sal na costa do Rio. A área é considerada um dos locais de petróleo offshore mais promissores do mundo.

viagem de Burns aconteceu enquanto o Brasil sofria com incêndios na Amazônia. Ele foi fortemente criticado pelos parlamentares trabalhistas por “amparar” os aliados de Bolsonaro em uma época em que o governo brasileiro enfrentava críticas internacionais.

Burns se encontrou também com o ministro do Comércio brasileiro, Marcos Troyjo. Durante a reunião, Burns disse a Witzel que “o Reino Unido estava pronto para trabalhar juntos em uma série de questões, incluindo segurança”. O DIT recentemente prestou assistência à empresa britânica Facewatch, em um acordo para inserir sua tecnologia em shopping centers do Rio.

O estado do Rio de Janeiro tem 17 milhões de habitantes. Durante décadas, foi severamente afetado por crimes violentos. Dados divulgados no início deste mês pela organização Fogo Cruzado mostraram que os tiroteios na região metropolitana do Rio em 2019 caíram 24% desde 2018, de 9.642 para 7.365. Em média, são 20 tiroteios diários na cidade.

A queda, no entanto, pode ser devido a uma expansão de milícias, e não o resultado de uma melhoria na segurança pública. Milícias formadas por ex-policiais e oficiais militares de folga formaram-se historicamente para combater a ilegalidade e a violência em áreas do Brasil onde o Estado tem pouco alcance. Entretanto, com o tempo e o aumento do poder, esses grupos se tornam também um motor de corrupção, violência e execuções. Os fortes laços entre a polícia e as milícias significam que isso é tolerado no dia a dia.

Embora não haja uma relação comprovada entre o governo Witzel e as milícias, também não há sinais de que o governo esteja combatendo o problema.

Via: Unearthed

Vinicius Szafran
Colaboração para o Olhar Digital

Vinicius Szafran é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital